O 5 de Fevereiro tornou-se bem mais do que o exercício de um protesto popular. Tornou-se, também, ocasião para o surgimento de cada vez mais vozes emancipadas daquele pensamento farisaico e criminalizador que apenas consegue ler (1) o protesto em termos de vandalismo destruidor de multidões, (2) o povo em termos de marionete movida por mãos externas e (3) o Estado enquanto refém de determinações e de preços internacionais, vozes das quais tenho dado conta neste diário (leia e/ou recorde a última aqui). Assim, na edição de hoje do semanário "Zambeze", é a vez de Paulo Muxanga, licenciado em Relações Internacionais e Diplomacia, criticar a criminalização despudorada da revolta por parte de certos indivíduos, num extenso trabalho com o título "Vandalismo ou grito de revolta?". A parte final da sua intervenção é esta: "(..) há quem defenda que estas manifestações deviam ter sido pacíficas, até porque nós também não somos apologistas da violência, entretanto é preciso realçar que, em termos de conflito e violência, as necessidades humans básicas são inegociáveis, pelo que, quando não satisfeitas, conduzem muitas vezes à violência. Há um provérbio que diz que a razão é inimiga de um estômago vazio. Portanto, há que chamar a atenção dos nossos governantes para a necessidade de levar o Estado para junto da população, esta precisa de sentir-se protegida pelo Estado, sob o risco da mesma chegar à conclusão de que o contrato social firmado com este Estado não vale a pena, o que pode comprometer a legitimidade do governo e, até mesmo, hipotecar a estabilidade e a legitimidade do próprio Estado" (p. 6).
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