Quando aqui, neste diário, pela primeira vez no país, dei o alerta do saque da madeira na Zambézia, multiplicando-me depois ao longo do ano em sucessivos alertas para a situação a nível nacional - incluindo uma carta para o presidente da República -, levantaram-se de imediato protestos um pouco por todo o lado, dizendo uns que isso não era verdade, que o corte de madeira estava abaixo do oficialmente estabelecido, dizendo outros que eu estava ao serviço de obscuros interesses estrangeiros, defendendo outros que o problema principal do desmatamento estava com os camponeses e com as suas queimadas descontroladas, fazendo outros, finalmente, doutas avaliações científicas para mostrar que era necessário não generalizar. Gloriosos seminários foram organizados para promover a imagem de um país florestalmente saudável. Em resumo: uma enorme cortina de fumo destinada a vedar a realidade de um impiedoso saque feito (e que prossegue, coisa que se vê logo a olho nu de avião) com a conivência de Moçambicanos dos mais variados extractos sociais, numa clima neo-liberal que dá origem à busca do negócio e enriquecimento a qualquer preço.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
29 dezembro 2007
Zambézia: o impedioso abate da floresta
Quando aqui, neste diário, pela primeira vez no país, dei o alerta do saque da madeira na Zambézia, multiplicando-me depois ao longo do ano em sucessivos alertas para a situação a nível nacional - incluindo uma carta para o presidente da República -, levantaram-se de imediato protestos um pouco por todo o lado, dizendo uns que isso não era verdade, que o corte de madeira estava abaixo do oficialmente estabelecido, dizendo outros que eu estava ao serviço de obscuros interesses estrangeiros, defendendo outros que o problema principal do desmatamento estava com os camponeses e com as suas queimadas descontroladas, fazendo outros, finalmente, doutas avaliações científicas para mostrar que era necessário não generalizar. Gloriosos seminários foram organizados para promover a imagem de um país florestalmente saudável. Em resumo: uma enorme cortina de fumo destinada a vedar a realidade de um impiedoso saque feito (e que prossegue, coisa que se vê logo a olho nu de avião) com a conivência de Moçambicanos dos mais variados extractos sociais, numa clima neo-liberal que dá origem à busca do negócio e enriquecimento a qualquer preço.
6 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
a "nossa" madeira, o debate, as acusaoes, os discurso, as reportagens, acho que foi dos melhores campos de desmatacao de ideias que brindou o ano de 2007.
ResponderEliminarProsseguireo com o desmatamento que refere...Abraço.
ResponderEliminarPrezado Carlos,
ResponderEliminarO desmatamento de regioes inteiras do nosso pais e um facto que ate os cegos conseguem ver! Reconhecemos o seu pioneirismo na area. Na AR levantei o caso, mas o Ministro dos Assuntos Ambientais, fez um desmentido, alegando que a exploracao da madeira em mocambique estava a quem do permitido por lei; e mais um tal director Nacional de florestas, de nome Cuco veio a pulpito desdizer aquilo que todos viamos no nosso dia a dia! Mas como as mentiras tem pernas curtas... Hoje finalmente temos directores provinciais que tem a coragem necessaria para reconhecer o obvio! Bien venu monsiur Vala!
E estranho que tenha levado quase 12 meses depois do alerta Serriano, para que o Noticias tivesse meios para ir ao terreno confirmar o que todo o mundo ja tinha confirmado! ou desta vez convem que se saiba a verdade para que se abata mais um frango!
De teatros parece que ja andamos meio fartos! ou nao?
Manuel de Araujo
Sim, Manuel, a situação é grave e, uma vez mais, a terreiro veio um director, no caso vertente o Valá, afirmar que medidas serão tomadas. Enquanto isso, terra amada terra desmatada, tal como disse um dia aqui ao presidente Guebuza. E a situação descrita pelo "Notícias" é tão grave que talvez eu venha a escrever nova carta ao presidente Guebuza, mesmo que ele não a leia, mas sabendo que muitos a lerão. Sim, lembro-me de o Manuel ter levantado o caso na AR. Prossiga nisso! Todos devemos prosseguir. Abraço.
ResponderEliminarAcham mesmo que alguém se vai preocupar? Já viram os da nomenklatura protegendo tudo em cima?
ResponderEliminarA PROPÓSITO DE SARA
ResponderEliminarTenho lido muitos dos seus comentários. Frontais, incisivos e contudentes q.b.
Neste caso, se me permite, discordo um pouco de si. O que sugere? Cruzar os braços?
Um 2008 embrulhado num inconformismo a todo o terreno