Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
26 outubro 2007
Xenofonia: canibalização do outro (a propósito do assassinato de Lucky Dube)
26 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Neste momento, os Grande lagos e o Zimbabwe, sao vistos como coitados pra nos. Nos somos vistos como coitados para os Sul-Aficanos. Os Africanos sao vistos como coitados na Europa.
ResponderEliminarOk, aqui existe uma tendencia de associacao entre as dificuldades (talvez uns chamariam pobreza relativamente a...) vividas por uma determinada comunidade e a sua inclinacao pra o crime. Por exemplo, acho eu se um americano aparece num assalto o caso sera visto de forma isolada.Porque??
Sera que ser pobre eh sinonimo de criminoso? Ou o facto de provirmos de ma sociedade com imensas dificuldades de sobrevivenciafaz com que o comportamento de uns seja generalizado??
PP
Já lhe tentarei responder, está bem?
ResponderEliminarOptimo Prof.!! e agradeco antecipadamente. Porque em mim nao creio que esta xenofobia seja por e simplesmente uma questao de as pessoas acordarem num mau dia e insurgirem-se contra uns e nao contra outros.
ResponderEliminarPP
Ok, preparo-me agora para lhe tentar responder, deixando este aviso primeiro...
ResponderEliminarTenho estado a pensar na xenofobia: fala-se muito disso mas o conceito não está esclarecido: medo do estrangeiro!? É efectivamente uma fobia? Nesse caso, deveria obedecer aos critérios da fobia, mas tal não parece ser o caso. Não será antes um preconceito? Assunto interessante... Basta pensar no caso da autoginefilia ou da acrotomofilia.
ResponderEliminarBem, vamos lá a algumas ideias, breves, não aprofundadas. Não, ninguém acorda rancoroso perante outrem, racista ou étnico por natureza. Mas comecemos por um campo relativamente fácil: o das diferenças, o da alteridade. Vivemos diariamente confrontados com coisas diferentes, a todos os níveis, coisas que avaliamos positiva ou negativamente. Com mais forte razão, somos produtores sociais de avaliações, de escalas de mérito ou demérito, tudo socialmente produzido e reproduzido em múltiplas instâncias de educação e inculcação. Os prejuízos, os estereótipos, os lugares-comuns sobre outrem, são produto da nossa relação com outros grupos (abdico de ver o problema a nível individual), sociais, étnicos, raciais, nacionais, etc. Ora, existem dois tipos de avaliação de outrem: os passivos e os activos. Os primeiros são moeda corrente em qualquer parte, em qualquer época histórica. São como que produtos socialmente produzidos cujo pecado original de origem foi perdido, surgindo, por isso, como natureza, como coisa normal, sem história. E muitas vezes são humorísticos (o humor é uma arma de desqualificação social terrível, como sabe). Por outro lado, temos as avaliações activas sobre outrem, aquelas que se exercem sobre ou contra outrem, de forma contínua e, muitas vezes, dolosa, podendo chegar ao extermínio (pense, por exemplo, no Ruanda. Ora, a produção social de avaliação de outrem faz-se, regra geral, em dois contextos: no contexto da disputa de recursos (muitas vezes ou quase sempre raros) e no contexto de acontecimentos excepcionais, que certos grupos ou certas comunidades ou certos povos consideram como perturbadores. Quer num caso quer noutro, situações emocionais imediatas e imediamente ampliadas por vários meios de comunicação podem gerar estados de intrabquilidade social difíceis de controlar. Estes estados estão, regra geral, ligados à busca de culpados imediatos. O problema não é: que situação provocou isto? Mas, antes: quem provocou isto? Então, comunidades, grupos, etc., podem entrar rapidamente em situação de revisão comunitária, de eclipse de regra e de normas, de busca de bodes expiatórias que permitam "lavar" a honra", purificar a sociedade dos males sociais, etc., etc. Deixe-me por ora ficar aqui, tenho de fazer outra coisa e, se achar necessário, prossigo depois....Abraço. screvo sem saber se isto vai com erros de ortografia. Abraço!
ResponderEliminarA confirmar-se que moçambicanos estão envolvidos no assassinato de Dube aí esse desrespeito por nós será acrescido, mas o que sinto é que os nossos vizinhos têm-nos como inferiores. PP eu acho que ser pobre não é sinónimo de criminoso, mas alguns para sobreviver vivem da criminalidade e acaba sendo um vício. Veja só os corruptos. Alguns são ricos, mas querem mais e mais. E essa imagem acaba molhando-nos a todos. Mas ainda estou a reflectir em torno deste aspecto.
ResponderEliminarGostei do seu texto. Deve editá-lo separadamente. O debate enriquece e clarifica os conceitos. Precisamos de teorias de longo alcance. Aquilo que diz pode ser dito da homofobia e este assunto está em debate nos USA. Mas precisamos lançar outras pontes: o assunto é complexo.
ResponderEliminarVoltei...Temos, ainda, campo político como excelente laboratório de produção de estereótipos, veja-se o caso da dupla Frelimo/Renamo. Para o estudo dos comportamentos colectivos e do mimetismo social, Gabriel Tarde e, especialmente, Robert Park, entre outros, são incontornáveis. Para o estudo dos grandes rituais de purificação social, Émile Durkheim e René Girard são outras referências. Há tb coisas interessantes em Freud e Adler. bem, novo compasso de espera. Saraiva, explique o que significam autoginefilia ou da acrotomofilia. Perdoe a minha ignorância. Olá, Ivone, siso reflicta e intervenha aqui, por favor!
ResponderEliminarCérebro em funcionamento...eheh.Até já ilustre.
ResponderEliminarIsso, pense e escreva sempre.
ResponderEliminarÉ difícil explicar o meu raciocínio: está relacionado com um tema da minha tese (transexualismo). A autoginefilia é a propensão de um macho para ficar sexualmente excitado com o pensamento ou a imagem de si mesmo como fêmea. A acrotomofilia é a atracção por amputados. daqui resulta que o transsexualismo pode ser visto como uma perturbação de identidade corporal e ser pensado segundo o modelo da amputação. Parece uma tese conservadora mas é interessante.
ResponderEliminaro meu pensamento é o de que podemos usar este modelo para repensar a homofobia ou a xenofobia. Serão mesmo fobias? ou outra coisa? Mudando de paradigma, podemos talvez compreender melhor esses fenómenos e ajudar a erradicá-los. Mas isto é ainda uma ideia, um caminho..., nada mais.
Mais uma vez..o meu Obrigad Prof. Serra. Antes de ir mais alem, gostaria de dizer que escuto a RDP Africa e me dou a ouvir que o ultimo Conselho da Frelimo nos vem ensinar que nao podemos ter inveja de quem eh rico ou ter medo de ser rico. Bom creio que vai ouvir mais sobre isso, mas nao quero insinuar nenhuma xenofobia em relacao aos ricos, so que tambem creio que as vezes para nao izer babuzeiras os ricos tem que ficar calados e viver a sua riqueza.
ResponderEliminarVolta a questao de xenofobia, creio que poe muito bem a questao e confesso que sou ignorante quanto as razoes por detras dos comportamentos xenofibos. Vou pegar na sua intervencao e tentar digeri-la.
Na sua questao sobre quem provocou isso? fa-me pensar que por vezes ja se tem uma ideia pre-concebida de quem deve ter sid.. apenas quer-se confirmar. Por exemplo, pode ser que por ter sido um cidadao de origem X, logo se diga ja sabia.
Mas vou seguindo sua explanacao e de outros que intervirem.
PP
Saraiva: penso que a matriz está criada e poderá resultar num desenvolvimento teórico ineterssante. Agora uma nota adicional ao que mais atrás escrevi: os acontecimentos extraordinários que referi mais atrás podem repercutir ( repercutem invariavelmente, afinal) sobre um meio social no qual abunde a percepção de penúria de recursos. O caso da África do Sul parece-me exemplar: o assassinato de Dube pode tornar-se o fusível que agudiza a percepção de raridade e pode projectar-se de forma acrescentada nos estrangeiros tomando estes por sugadores de recursos. Aqui, em Moçambique, o fenómeno do chupa-sangue (que um dia tentei analisar) é muito mais do que um exercício de aberração ilógica: é uma linguagem errada para verter uma lógica implacável, a lógica da percepção das assimetrias sociais. E, agora, Ivone, temos o campo da produção dos estereótipos políticos: a Frelimo entende que a Renamo é por natureza um conjunto maléfico de "bandidos armados" sempre desestabilizadores e arruaceiros e a Renamo entende que a Frelimo é um conjunto irremediável de comunistas que faz capitalismo exclusivo e ecusa a democracia. Esta dupla visão reflecte-se, por exemplo, na produção dos heróis de ambos os lados (recordai-vos que aqui já escrevi sobre isso). Estou errado nesta avaliação? Corrijam-me então.
ResponderEliminarSim, PP, ouvi horas atrás o Edson Macuácua dissertar docemente sobre a necessidade de respeitarmos e valorizaqrmos quem enriqueceu honestamente. Terei de aguardar mais desenvolvimento sobre isso. Por agora, o problema de pesquisa é o seguinte: qual a razão desse discurso agora, neste período? Imagino o aproveitamento político disso em campanha eleitoral, lá, emsonaz de pobreza a olho nu...
ResponderEliminarJá agora, PP, recordei-me do Jorge Rebelo a perguntar-se de onde vem tanta riqueza na Frelimo...
ResponderEliminarSo faltava dizer..neste pais nao eh rico quem nao quer, e isso nao eh culpa nossa!! So que tambem me questiono a razao do discurso. O que se pretende justificar??
ResponderEliminarMas voltemos ao debate da Xenofobia.
PP
Seria interessante saber quanto os ricos pagaram ao fisco nestes ultimos ano!!
ResponderEliminarSo que me interrogo ainda mais. Nessa nossa reuniao partidaria, que deveriamos estar falando das metas nao alcancadas, das solucoes para contornar os problemas, da questao das eleicoes, das sucessivas gafes presidenciais, porque viemos ao publico defender o nosso estatuto?
Bom, todo mundo tem direito a dizer besteiras!!
PP
Por isso aguardo pormenores no noticiário das 19.30 da RM...Estou interessado a valer...
ResponderEliminarIlustre, quando diz: "a Frelimo entende que a Renamo é por natureza um conjunto maléfico de "bandidos armados" sempre desestabilizadores e arruaceiros e a Renamo entende que a Frelimo é um conjunto irremediável de comunistas que faz capitalismo exclusivo e ecusa a democracia. Esta dupla visão reflecte-se, por exemplo, na produção dos heróis de ambos os lados " está certissimo, mas o que a Frelimo não diz é que foi Matsangaíssa quem içou a bandeira de Moçambique no Estádio da Machava em Junho de 1975. Veja o Blogue MIRADOUR(O)NLINE. Os racistas estão entranhados, os com tendência para a exclusão do outro, esse medo do diferente que vem lá do Antigamente, é cultivado pela Frelimo. Essa de não querer o Sr Guebas, dialogar com o Presidente Dhlakama é uma autêntica demonstração de um espírito de superioridade. Afinal a bancada da Oposição não é da mesma RENAMO? 1)A origem de Guebuza é comunista e em todo o mundo e em todas as épocas os comunistas acharam-se superiores que todas outras culturas políticas; 2) Os Frelimistas de tanto repetirem, entre eles, que a RENAMO é de bandidos armados, acabaram se convencendo de que estão certos dando-nos esses rótulos; 3)Juntando todas estas coisas é evidente que é difícil uma normal dialéctica política, pois em todo mundo, apesar de haver diferentes posições, os líderes reconhecem, em todas as democracias , o chefe da Oposição. Em Moçambique o conjunto dos 3 aspectos que referi são uma ameaça para a democracia. Chissano dialogou e merita prémios do calibre de Mo Ibrahim, alcançado porque o Presidente Dhlakama ajudou-o na Governação mantendo a Paz, é evidente.
ResponderEliminarAvancemos, Ivone!!!! Exponha sempre os seus pontos de vista. Quando não me manifesto como cidadão, amo estudar os processos de etiquetagem social e por isso o seu texto é fundamental, mostram uma outra visão da vida. Obrigado!!!
ResponderEliminarLeu o Miradouro ilustre? Algo interessante. Também postei no meu cantinho.
ResponderEliminarIrei ver, pode crer!
ResponderEliminarAusentei-me, entretanto. Acedi ao convite mas deparei com um silêncio "ensurdecedor"!
ResponderEliminarGostei muito do que escreveu. Desconfio que isso me vai obrigar
fazer trabalho de casa. Étienne Balibar, que acha?
Abraço
Agry
Ausentei-me, entretanto. Acedi ao convite mas deparei com um silêncio "ensurdecedor"!
ResponderEliminarGostei muito do que escreveu. Desconfio que isso me vai obrigar
fazer trabalho de casa. Étienne Balibar, que acha?
Abraço
Agry
Boa sugestão...
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