Outros elos pessoais

11 setembro 2007

Diabo e wikwembu (2) (continua)


"A angústia religiosa é, por um lado, a expressão da angústia real e, por outro, o protesto contra a angústia (…). Exigir que [o povo] renuncie às ilusões é exigir que ele renuncie a uma situação que precisa de ilusões." (Marx)
Vamos lá escrever algumas notas canhestras, em pequenas partes, para não vos maçar. Sabem alguns que este diário está muito (mesmo muito) povoado por notas sobre a crença nas e a prática das forças do invisível. Avancemos então. E, como sistematicamente tenho dito, aqui nada é difinitivo, salvo a inconclusão: por isso posso emendar algo a qualquer momento.
I
Ontem voltei, cívica e religiosamente, ao contacto radiofónico com a Igreja Universal do Reino de Deus. A sua rádio deu-me o prazer de retomar o contacto com dois fenómenos que muito amo recordar: (1) atribuição ao diabo da responsabilidade de todos males, sociais e naturais, que nos apoquentam; (2) pedido a Deus de benção para os governantes.
II
Anos atrás, em Inhambane, falei com uma mulher que fôra acusada de estar enfeitiçada por uma outra mulher e seus três filhos, em meio onde estava em disputa a herança de um terreno cheio de coqueiros. Disse-me, com voz amagurada, que estava cansada de ser acusada de feitiçaria, de ser acusada de produzir wikwembu e que por isso decidira ser membro de uma das igrejas evangélicas locais. Ao menos estou com Deus que lá em cima vela por mim aqui em baixo em lugar de estar sozinha aqui em baixo todos os dias acusada de ser feiticeira - disse-me.
III
Em Dezembro de 2005, encontravam-se registadas 652 confissões religiosas na Direcção de Assuntos religiosos do Ministério da Justiça.
Para o mesmo ano, um portal reportava a existência em Moçambique de 72 mil curandeiros. "É um exército de 72 mil curandeiros contra apenas 500 médicos, num país de 20 milhões de habitantes."
São números certamente hoje ampliados.

3 comentários:

  1. Principal problema não é pobreza absoluta, são psicwembo absolutos.

    ResponderEliminar
  2. Exigir que [o povo] renuncie às ilusões é exigir que ele renuncie a uma situação que precisa de ilusões." (Marx)

    Interessante esta tirada de Marx!
    Quer dizer entao que a ilusao tambem tem direito à razao?! parafrazeando o outro, nem so de razao vive o homem mas tambem da ilusao na razao...

    ResponderEliminar
  3. Essa frase de Marx é pouco citada...Mas é fascinante. E uso-a muito.

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.