17 maio 2006

652 confissões religiosas em Moçambique

Em Dezembro de 2005, encontravam-se registadas na Direcção de Assuntos Religiosos do Ministério da Justiça, 652 confissões religiosas, a maior parte com sede em Maputo.
Dado importante é o florescimento das igrejas pentecostais, com forte proselitismo religioso e apelo constante à cura divina[1].
Não pode excluir-se a existência de outras confissões não registadas.
Face a tanta busca de crença e de lenitivo, não surpreende esta proliferação da confissões num autêntico exercício de “colonização do espírito”, como diria Everett Hughes[2].
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[1] Veja, para contextos sociais parecidos, Contini, Eliane, Un psychiatre dans la favela. Paris: Synthélabo, 1995, pp.60-62; Houtart, François et Remy, Anselme, Haïti et la mondalisation de la culture, Étude des mentalités et des religions face aux réalités économiques, sociales et politiques. Pris/Montreal; CRESFED/Harmanttan, 2000, p. 29.
[2] Hughes, Everett, Le regard sociologique. Paris: Éditions de l´École des Hautes Études en Sciences Sociales, 1996, p. 311.

3 comentários:

Anónimo disse...

Nao foi sem razão que um dos maiores cientistas sociais do sec. XIX, referiu-se que "a religião é o òpio do povo". O agravamento das desigualdades sociais, o desemprego, as doenças incuráveis, o facismo social, etc., têm contribuido para a institucionalização do sentimento de incerteza em relacão ao presente e ao futuro. Se o contrato social que tem por funcão produzir quatro bens públicos fundamentais - legitimidade da governação, bem-estar económico e social, segurança e identidade colectiva - entra em crescente colapso este facto, parece-me fertilizar o campo de intervencão das divindades que se por um lado representam a "colonização do espírito", por outro, - aliviando as tensões sociais - "descolonizam o espírito da matéria"

Carlos Serra disse...

Estou de acordo contigo, mas algures neste diário já fui criticado por ter, como tu, uma leitura demasiado mecanicista. Procura a entrada na qual recordo Marx e a angústia religiosa.

Anónimo disse...

A proliferação procede de um quadro social e político em que determinadas pessoas,pejadas de necessidades básicas, buscam formas de expressar essa crise. Fazem fé que, alguém é por ela responsável, e o alguém está ligado à classe privilegiada. Criam sinais identitários em oposição aos oficialmente declarados. Beúla, Escola de Jornalismo