Outros elos pessoais

04 setembro 2007

Criminalidade e acumulação de capital

I
Hoje, as teorias almofadadas, os conceitos-amortecedores, os diálogos racionais, os termos-aspirina (tipo "globalização") - com tudo isso se procura aniquilar diariamente a mais poderosa análise do social que jamais foi construída no planeta: a de Marx.
Por exemplo, foi Marx quem um dia mostrou que os primórdios do modo capitalista de produção nada têm de idílico, que na "história real" esse modo está cheio de páginas tenebrosas que não figuram na "doce Economia Política" (sic).
O que Marx chamou "acumulação primitiva de capital" (expressão que provoca dolorosas úlceras gástricas em certos mandarins do verbo nefelibata) desempenha na Economia Política o mesmo papel que o pecado original na Teologia. Se Adão comeu a maçã e o pecado caiu sobre todo o género humano, a conquista, a pilhagem, o assassínio, a sujeição, a força bruta, o roubo, etc., despejaram (e continuam a despejar) sobre o género humano as maravilhas do modo capitalista de produção.
II
Se quisermos estudar a criminalidade no país, teremos de nos afastar um pouco do pequeno barco que carrega os modestos tripulantes da pequena pilhagem de galinhas, de celulares na rua e de vidros de automóveis.
Teremos de garantir um lugar no transatlântico penumbroso que transporta os acumuladores intrépidos de capital, nas mais variadas formas da acumulação - da AK47 às subtis fórmulas de colarinho branco -, aqueles que não quiseram ser condenados a ganhar, paciente e chatamente, o pão com o suor do rosto.

4 comentários:

  1. sendo a acumulaçao de capital um pecado entao vivemos todos em pecado, havendo o pecado mortal, sem nehuma hipotee de escapar ao purgatorio e os outros... mas todos em pecado.

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  2. Prof, penso que somente a teologia cristã é que fala do pecado original. O Islão deplora isso. O homem nasce livre disso e como tal não arca com as dívidas dos seus antecessores. Para além de que tanto Adão como a Eva têm responsabilidades divididas e são responáveis pelos seus actos. Nós os outros somos pelos nossos.

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  3. Faltou referir que a expressão é de Marx. De qualquer das formas, amei saber o que escreveu.

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