Outros elos pessoais

03 julho 2007

Carta para o Senhor Presidente da República, Armando Emílio Guebuza

Presidente
Permita-me que, uma vez mais, lhe escreva uma carta.
Sabe, já me disseram que não vale a pena escrever cartas. E que muito menos vale a pena escrever cartas para o Presidente da República.
Mas o que hei-de fazer, Presidente, se sou teimoso e se entendo que lhe devo escrever?
Por isso lhe escrevo.
Veja como está a nossa marginal pelas fotografias mais abaixo, a marginal desta nossa tão bela cidade, a marginal da pérola do Índico como o Presidente tanto ama dizer.
Ela está a morrer.
Este não é mais um problema municipal, de Maputo, da nossa capital, este é um problema nacional.
Cada Moçambicano habita a alma da marginal e da baía.
Esta alma não pode morrer, Presidente, a hika lendzi dzingafi.
Presidente: não tem havido dragagem na baía de Maputo, logo não há reposição das areias de aluvião do rio. Devido às correntes, o mar retira areias quer da baía quer das margens que são a marginal. Atrás da marginal existia um pântano de mangal costeiro onde, na maré cheia, o mar se espraiava. Esse mangal/pântano foi ocupado, roubado ao mar, o peso dos edifícios impede o lençol freático de operar segundo as suas próprias regras. Deixa de haver ponto de quebra da força do mar e incapacidade de infiltração da água na duna costeira.
A duna costeira - formada por um ecossistema equilibrado de areias, de plantas que a suportavam e de árvores - rapidamente foi destruída pela intervenção humana.
O aquecimento global de que tanto se fala fez aumentar, na última década, alguns centímetros ao nível do mar. Centímetros cruciais, Presidente.
A solução leva a custos enormes que obrigam a importantes cirurgias na marginal. Obras de grande engenharia para conter a fúria da natureza. O prolongamento do paredão que se inicia na capitania do porto e passa pelo Clube Naval será o futuro a médio prazo. Perder a praia será o futuro a longo prazo, eventualmente ja visível no horizonte. Parece não haver retorno para o que está a acontecer.
Estamos, por hipótese, perante erros acumulados. O homem põe e a natureza dispõe.
Mas urge fazer algo.
Os meus mais respeitosos cumprimentos.
A luta continua.
Carlos Serra
Centro de Estudos Africanos
Universidade Eduardo Mondlane



2 comentários:

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