Outros elos pessoais

12 maio 2007

Os excelsos discursadores sobre o desenvolvimento dos distritos


Decorre neste momento o habitual debate das 9 horas na Rádio Moçambique, tendo como tema hoje "o distrito como pólo de desenvolvimento: constrangimentos e exemplos de sucesso" e painéis em Maputo, Beira e Nampula. Painéis cheios de funcionários estatais, a presença mitigada de um convidado, o Fundo para o Desenvolvimento das Comunidade, ausência de convidados como a Direcção Nacional de Estatística e o Conselho Cristão. Um apresentador - Saíde Omar - cheio de vontade em encontrar "exemplos concretos de sucesso" na aplicação dos sete milhões de meticais alocados a cada distrito, aplicação, porém, cheia de "desvios de aplicação", como este diário tem reportado. O debate é um termo errado: o que está a acontecer é um conjunto cerrado e oficioso de declarações patrióticas, de sucessos evidentes, de futuro radiante. Alguns "constrangimentos" (sic) apenas. A "sociedade civil" participa? Claro que sim, os "conselhos consultivos" são disso um exemplo, apesar de alguns "conflitos". Mas conselhos, porém - isso não dizem os discursadores -, cuja composição está exemplarmente ilustrada pelo distrito da Moamba, onde apenas membros do partido Frelimo consultivam. Bom discursador é António Máquina, secretário permanente do Governo de Sofala que, no seu combate contra a pobreza absoluta, comprou em 2005, num bairro de luxo na cidade da Beira, com dinheiro do Estado e para uso pessoal, uma residência que custou 325 mil dólares.
Nenhum cientista social presente, ninguém capaz de pôr em dificuldade esses venerandos senhores portadores da voz do sucesso.
E eu a recordar-me do que um leitor deste diário escreveu aqui há dias, em comentário: "Nos últimos anos do período colonial existia na então Direcção Provincial de Agricultura, ali onde hoje funciona o Ministério da Agricultura, uma Direcção de Sociologia Agrária, cujo director era um um sociólogo, que tinha como missão coordenar uma equipe multidisciplinar, que actuava sobre o agregado familiar no seu todo: (1) o técnico agrícola; (2) a assistente social; (3) a professora; (4) a enfermeira; (5) outros técnicos. O objectivo era levar o conhecimento ao agregado familiar: produzir mais (crescimento económico) para melhorar a dieta alimentar, os cuidados de saúde e higiene, o vestuário, comprar material escolar etc. (desenvolvimento). Simultaneamente, essas equipas promoviam o associativismo rural, começando pelos armazéns comunitários, evoluindo para a pré-cooperativa e depois para as cooperativas de produção, transporte, etc. Há exemplos com resultados interessantes, em particular na zona sul do país."

3 comentários:

  1. A Rádio Moçambique, ao contrário da TVM, aparece como o órgão de informação público que mais independência tem em termos de conteúdos editoriais e de produção. Todavia, o que tenho notado em alguns dos seus programas é o facto de não se tentar equilibrar e diversificar as fontes de informação. O que acontece é que acabamos não tendo debate, mas sim "unanimidade", o que dá a impressão de que as coisas andam bem.

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  2. escutando o debate e o discurso que vem acompanhando o fenomeno do "distrito como polo de desenvolvimento" fico com a sensacao de que faltam instrumentos teoricos e practivos para lidar com a pobreza rural.o caso dos famosos 7 milhoes e os conselhos consultivos no distrito, produz inquietacoes relacionadas com a clareza administrativa e vontade politica de prosseguir com reformas na descentralizacao, financas publicas, poder local, participacao politica, representatividade, desenvolvimento rural versus pobreza urbana,etc.

    e estas inquietacoes nao animam nem produzem certezas para mocambicanos que queiram investir na economia rural.

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  3. Vamos a ver o que vai passar-se. Hoje, ao iniciar a visita à província de Maputo, o presidente Guebuza disse na Matola que a pobreza absoluta ficará para a história (sic)(noticiário da RM, 19.30).

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