Outros elos pessoais

10 maio 2007

Não há crise



Faz muito que não me aventurava a isso, a passar com o meu velho carro pelos bairros, pelo Alto-Maé, pela Malhangalene, pelo 25 de Junho, descendo depois para a baixa, para a 25 de Setembro e para as pequenas ruas perpendiculares, percorrendo finalmente a marginal e vendo os efeitos crescentemente corrosivos da erosão.
Passei em sítios onde me pareceu terem caído bombas atómicas, eram verdadeiramente estradas-crateras.
Um bocado por todo o lado fiquei com a sensação nítida, táctil, de que os deuses se esqueceram da cidade ou de que a destinaram ao inferno.
Esgotos rebentados, carcaças de casas e de carros, lixo por todo o lado, dumba-nenguização de tudo e de todos, escolas habitadas pela incúria, chapas que chapam não importa o quê nem onde. Para usar uma imagem digestiva apenas a propósito dos buracos: em outras cidades do planeta um buraco numa estrada é suficiente para fazer cair um governo: aqui, 100 buracos ampliam a longevidade do governo.
E assim normalizamos o anormal, damos-lhe o cunho das coisas naturais da vida. Não há crise, como diz o nosso povo. Povo que se tem queixado ao presidente da República de muitas mazelas existentes na cidade e na vida. Veja aqui. Mesmo os antigos combatentes da libertação nacional se queixam.
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Ao procurar na net fotografias de buracos na cidade de Maputo, dei, já não sei por quê, com o blogue de uma brasileira, um blogue com uma única entrada colocada a 14 de Abril. Leiam o que essa visitante escreveu sobre Maputo (que compara com um subúrbio de Salvador), mas também sobre a sua ida a Nampula, aqui. Pode dar um bom debate.

6 comentários:

  1. Apenas um pequeno reparo, o blog desta senhora brasileira nao tem apenas uma entrada, na realidade tem muitas mais, so que e um blog diferente deste, em que se ve varias entradas numa mesma pagina. Naquele e preciso ir-se ao fim da pagina e 'clicar' no 'link' da pagina seguinte para se poder le-lo.

    A entrada seguinte fala de Itoculo, que aparentemente era o destino final aqui da senhora.

    Sobre o conteudo do que ela escreveu nao vou comentar, porque esta cheio de lugares comuns discutidos ja ate a exaustao...

    A beleza e a pobreza estao nos olhos de quem os ve, mas tambem na construcao de anos e anos de internalizacao do que e belo e do que nao e, e de onde se pode esperar o belo e onde nao se pode.

    Creio que nada do que ela disse espantou aos leitores a quem ela certamente dirige a mensagem. E simplesmente reforcou imagens que ela tinha e imagens (algumas) que concerteza ela trazia...

    Nao quero com isto dizer que ela mentiu... de maneira alguma... mas e tao relativo o que ela disse como o que ela viu, como as conclusoes a que ela chegou...

    Fosse outra pessoa... fosse eu, por exemplo... veria outra coisa... muita outra coisa.

    Mas eu nasci aqui, nao e, e entao, claro que sei o que olha e onde olhar. Se calhar se fosse eu a olhar para Salvador olharia com este mesmo olhar ternurento e paternalista.

    Afinal isto e Africa...

    E ja agora... a historia dos 1000 Mtn... sim senhor! Ela fica espantada que lhe deem um jeito por algo que ela pediu para darem um jeito?

    Pessoalmente acho que deveria ficar contente com a eficiencia Mocambicana na prestacao de servicos.

    Pelamordedeus... se e para criticar, gostaria que fosse com um pouco mais de imaginacao.

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  2. Professor,
    É de dizer aqui que a fotografia da direita é de uma das fases de crescimento do ex-maior buraco da marginal, que já foi reparado. Era de desejar que com todos os outros nunca se chegasse a tal estado.

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  3. Fátima, como pode reparar, também eu tapei o buraco que estava aqui nesta entrada...E coloquei um outro. Uma vez mais, obrigado pelo reparo.

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  4. Boa tarde Professor tive a oportunidade de ler o blog da senhora brasileira que faz uma descrição distorcida e míope da nossa cidade capital. Pelo que diz devia ter sido impedida de entrar no país na Fronteira de Ressano Garcia porque pessoas como ela não são benvidas – tenho pena dos nossos conterrâneos de Itocolo que devem estar a passar maus bocados com ela. A pobreza em Moçambique é uma realidade, mas não na dimensão que ela procura demonstar. Parece-me aquele tipo de pessoa que sob o manto de vir ajudar os “pobrezinhos”, vem para a nossa terra aliviar a pobreza dela (amealhando os famosos dólares).
    O episódio que conta dos funcionários da companhia aérea só mostra o tipo de pessoa que ela é: alguém habituado a corromper tudo e todos. De certeza absoluta se fosse uma pessoa íntegra não seria por U$D 89,00 que haveria de procurar corromper as pessoas. É um modus vivendi dela - também vindo de onde vem!!
    Com o devido respeito, um grande abraço Professor e viva a Blogosfera!!

    Jojó Lemos

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  5. Assim mesmo, Jojó Lemos! Obrigado pela visita.

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