Quase oito anos se passaram desde que em 1999 pesquisei sobre potenciais de racismo e etnicidade em cinco cidades de Moçambique.
Recordam-se, quando leram o texto anterior, que vos dei conta de um grande potencial de abertura aos refugiados existente entre os nossos compatriotas urbanos.
Ora, radicados nas nossas cidades, existem agora cada vez mais refugiados africanos, especialmente oriundos dos Grandes Lagos e da República Democrática do Congo.
De acordo com o ACNUR, cerca de 7,500 pessoas possuem o estatuto oficial de refugiados em Moçambique, sendo: 78% da República Democrática do Congo, 14% do Burundi e 8% do Ruanda. Muitos dessas pessoas fugiram das guerras nos seus países. Cerca de 5,000 refugiados vivem num campo fora da cidade de Nampula.
Esses dados devem ser aceites com prudência, porque não têm em conta quer os refugiados clandestinos, quer os refugiados do Zimbábuè.
De qualquer das formas, quer a concentração em si de estrangeiros (disseminando abertamente a diferença cultural), quer, especialmente, a competição por recursos fundamentais (emprego, alimentação, habitação, etc.), podem gerar por parte dos Moçambicanos três tipos de fenómenos, produto da alteração do quadro de permeabilidade que a pesquisa de 1999 identificou:
1) Desqualificação rapidamente naturalizante do Outro, com a formação de lógicas de exclusão apoiadas numa etnicidade agressiva, num racismo sem raça.
2) Atribuição ao Outro de poderes maléficos.
3) Projecção no Outro da autoria de certos tipos de fenómenos (roubo, morte), podendo isso dar origem à agressão e, até, ao linchamento.
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