Outros elos pessoais

12 março 2007

Violência social: realidade e categorização


Pensar a violência social é, também, necessariamente, pensar as categorias pelas quais a pensamos e categorizamos e, muitas vezes, a violentamos, permitam-me dizer assim as coisas. Por outras palavras, a violência é, muitas vezes, senão sempre, um produto da forma como a concebemos. É a esse propósito e a propósito da maneira como pensamos a violência em Moçambique, que me pareceu bom chamar-vos a atenção para uma admirável intervenção de Camille Goirand (Instituto de Estudos Políticos da Universidade de Lille, em França), aqui em português, no contexto de um debate havido no Brasil em 2001:

"(....) O que eu gostaria de sublinhar é que, tanto na linguagem política, quanto no tratamento dado pela mídia à violência, de certa forma ele se constrói em um imaginário de conflito, conforme o mediador falou de guerra civil no discurso da violência, construído justamente em um imaginário de conflito, em um imaginário de guerra.
Assim, encontramos, na mídia, um discurso combativo que participa, então, da construção desse conflito. Assim, na realidade, o conflito é ele mesmo ausente, não acontecendo verdadeiramente, não em sua totalidade, um conflito social. Parte, evidentemente, de um conflito político, já que, quando temos a violência, em geral nós nos remetemos à uma violência sem controle, que é constituída como conflito pelo discurso da mídia." - importe aqui o texto completo.

4 comentários:

  1. Mas, como diriam os politicos sociais e historiadores: existem os factos e esses sao inegaveis... Creio que a essencia desta discussao entao, nao e tanto se a violencia existe ou nao, mas como ela e usada, recriada, extrapolada (ou minimizada), e assim por diante.

    Assim como a historia e sempre a versao dos vencedores... as noticias tambem sao a versao dos interesses politicos.

    Por cada violencia que vemos, creio que existem mil ou mais invisiveis e que passam despercebidas. Depende das agendas e dos poderes.

    Por isso e sempre interessante nao so aquilo que se ve e diz, mas precisamente e essencialmente tudo o que nao se ve e nao se ouve.

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  2. Justamente, o que não se vê e não se ouve. Mas, tb, o que achamos que vemos e ouvimos. Falta em Moçambique um estudos sobre os nossos processos de categorização.

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  3. La strega: se puder, leia um dia Willard Van Quine.

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  4. Obrigada pela sugestao, farei a pesquisa.

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