Outros elos pessoais

17 março 2007

A síndrome dos olhos convenientemente fechados


E, a pouco e pouco, fechamos os olhos aos olhos. Entendemos que não precisamos olhar: tudo já foi olhado. E o que foi olhado, olhadamente bem estava. Tudo está bem para quem decide que tudo está bem. E se o que foi olhado foi mal olhado, evidentemente que foi, afinal, bem olhado. Essa a regra dos deuses.
Dois fenómenos foram despoletados: o da exploração desenfreada das nossas florestas e a eventualidade de os picos de cheia do Zambeze terem sido motivados por erros de gestão hidroelétrica.
Para ambos os casos, o nosso governo decidiu que tudo está bem. Se vozes alertam para problemas, alertam mal. Vêem mal ou vêem o que não precisa ser visto porque já foi visto bem por quem tem o condão de ver bem mesmo sem ver.
É a oposição que alerta? Evidentemente que só pode estar errada, que só pode ver mal, porque a oposição tem por destino ver mal.
Cidadãos alertam? Evidentemente que alertam mal, cidadãos não podem ver bem e se acham que estão a ver bem, deverão saber que quem não vê é quem vê.
Mal vamos num país onde existem indícios crescentes de que o patriotismo se avalia pelo coeficiente de olhos convenientemente fechados.

2 comentários:

  1. Uma atitude verdadeiramente civica nao se faz sem critica saudavel. Tenho dito.

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  2. Talvez seja a tentativa de frelimização da sociedade, onde quem não vê com os óculos deles não esta a ver ou se vê esta ver errado ou disfocado.
    Talvez seja o caso de arranjar-mos lentes bifocais.... kem sabe...

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