Ó mulheres que amo, deixai-me esquecer o rude ofício de sociólogo para me transformar hoje em poeta. Eis o poema:
Palavras desnecessárias
Eu nunca me recordo de ti
eu nunca penso em ti
eu nunca estou em ti
eu nunca sou ser-em-ti
Naturalmente que agora
me perguntarás a razão
de tão estranhos enunciados
tão feridores do comum senso
Mas tudo é simples
como simples
são as coisas naturais
Olha lá, por que razão haveria
de te recordar
de te pensar
de te estar
de me ser sendo-te
se em cada sulco de ti em mim
sempre me foste e te fui
como uma tatuagem binária dos deuses?
Por que razão haveria de dizer
o que sempre foi e será?
Por que razão haveria de usar palavras
quando sempre te fui no acto de me ser?
O que são palavras senão actos envergonhados
por terem de dizer o que não precisa ser dito?
O que são palavras senão empregados desastrados
que não sabem servir à mesa da realidade?
O que são palavras senão camisas desnecessárias
que querem vestir o que é nudez pura e evidente?
Por isso um dia te farei um poema como este
que despalavre as palavras no meu ser-te
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