Outros elos pessoais

18 julho 2006

O dogma da imaculada percepção

Foi em Nietzsche (ou em alguém que o citou, já nem sei) que li um dia esta maravilhosa frase: “O dogma da imaculada percepção”, que é todo um protocolo de pré-aviso para nós, sociólogos.
Na verdade, quantas vezes não tomamos o social pelo sociológico, esquecendo-nos, primeiro, de que o cidadão tem de se reconstruir enquanto sociólogo e, segundo, que todos aqueles que estudamos, ouvimos, etc., têm de ser, eles também, reconstruídos, reconstituídos enquanto fenómeno?
Mas quase sempre tomamos o que sentimos como o real que torna desnecessária a construção teórica, tomamos o evidente pelo científico, tomando os objectos sociais pelos objectos sociológicos.
Demitimo-nos da sociologia para sermos como o bom Sr. Joaquim-de-sempre cuja filosofia é sempre perversamente elegante: “As coisas são como são e prontos”.
E é nesse caldo bento e saboroso que nos comprazemos quer com as nossas doutas perguntas, quer com as não menos doutas respostas dos nossos objectos de estudo. Perguntas assim, por exemplo: “O senhor tem tido muito trabalho?”, “Não acha que o país se tem desenvolvido nos últimos 30 anos?”, “Não devemos nós todos trabalhar para o bem-comum?”
Tentai imaginar as respostas ao sabor quer da forma como já conhecemos as respostas, quer da forma como os outros já sabem que nós sabíamos que eles sabiam o que queríamos que eles e nós soubéssemos neste sempre-sabemos sem nada sabermos.
Para quê fazer golpes de estado sociológicos se tudo é assim e “prontos”(como é maravilhosa esta nossa popular capacidade de pluralizar o já pronto!)?

1 comentário:

  1. Mas então como devemos fazer para sabermos que estamos a proceder correctamente quando fazemos perguntas às pessoas?
    Um estudante

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