Com Guebeuza inicia-se uma coisa muito interessante no país: o regresso a um certo samorismo, com o apelo a uma espécie de milenarismo razoável. O distrito como alavanca do desenvolvimento, uma pressão grande sobre os governos locais, todo um vocabulário samoriano adaptado aos tempos de hoje (auto-estima, orgulho de ser moçambicano, luta contra o espírito do deixa- andar e contra o burocratismo, etc.), presidência aberta em sucessivas viagens pelas províncias e pelos distritos, escuta prolongada das críticas do povo, um grande investimento no trabalho partidário. Estamos perante toda uma postura de resgaste aparente dos anseios populares.
Essa, uma prática de “esquerda”.
Mas, ao mesmo tempo, fazemos um incessante apelo ao investimento de capital, convidamos em todos os fóruns os investidores estrangeiros, batemos mesmo com incessante frequência à porta da magra classe capitalista local e erguemos alto o facho do sonho “made in Mozambique” quando a maior parte das empresas fechou as portas e milhares de trabalhadores se encontram desempregados. Falamos em postos de trabalho e queremos acreditar que o capitalismo se destina a criar emprego. E, agora, o anteprojecto da nova Lei do Trabalho estende um tapete elegante ao Capital. Assim, as multas por despedimento de trabalhadores são drasticamente suavizadas por forma a reduzir os “custos de operação” das empresas.
Essa, uma prática de “direita”.
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