1. O que observamos, ouvimos e registamos é condicionado pelo grupo ao qual pertencemos, pela nossa cultura, pelas nossas representações sociais, pelo contexto no qual actuamos, etc. A visão que temos não é imediata, mas filtrada por esse condicionamento. Ver não é como num espelho: o que se vê é o que é[*]. Pelo contrário: o que se vê é o que nós somos obrigados a ver.
[*] Todavia, isto pode não ser rigorosamente verdadeiro: o espelho pode devolver-nos uma imagem distorcida…
2. O que está a ser proposto não é que o investigador invente a realidade no sentido de a falsificar (por exemplo: lá onde é negro, descrevemos branco). O que está a ser proposto é que o investigador tenha consciência do seu condicionamento social.
3. A actividade humana formata as nossas representações sociais. Habituamo-nos ao que fazemos e observamos, introduzimos a evidência em tudo isso, naturalizamos tudo isso. Ora, o primeiro dever do investigador é tomar consciência disso, é recuperar o espanto e subverter a evidência com a novidade, com o nunca visto. Nada se pode observar e descrever sem o selo da novidade.
4. O investigador nunca deve tomar uma negativa por uma ausência de informação. A ausência de informação também é uma informação.
5. Um aspecto fundamental na pesquisa é a nossa capacidade de fazer o estudo e análise do que Erving Goffman chamou "comportamentos menores", quer dizer, de tudo aquilo que é o dia-a-dia da produção da sociedade, de tudo aquilo que é rotina, "coisa sem importância".
Sem comentários:
Enviar um comentário
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.