É bem mais ou devia ser bem mais.
Porque, afinal, Josina Machel é bem mais do que uma mulher que deu a vida pela libertação nacional. Na realidade, o simples facto de ter transgredido o universo caseiro, de ter subvertido as regras costumeiras da opacidade social, de ter contribuído a vários níveis para a libertação da pátria, deu-lhe o estatuto heróico de real produtora de relações sociais diferentes, reais, práticas, não discursivas. Esquecer isso é esquecer o real sentido da luta de libertação, luta que foi a um tempo nacional e social.
Neste dia, um abraço, um beijo, uma mão, um carinho, um respeito, uma fraternidade, uma ponte para todas vós. Nem todas as Moçambicanas sabem do 7 de Abril. Também nem todas elas, nem todas vós, o têm como seu e vosso dia. Mas façam de conta de que todos os dias é Dia da Mulher Moçambicana, dia também das Mulheres de Todo o Mundo. Então, seteabrilemos diariamente.
A luta continua por um futuro mais solidário.
Recebi do Prof. Óscar Monteiro o seguinte comentário:
ResponderEliminar"Li, comovido, o seteabrilemos uma forma do verbo que devemos praticar todos os dias, nas sua bonitas palavras. Um seteabrilar que pela sua intensidade prenuncia conceitos historicamente posteriores como o género e a violência doméstica e lhes vai sobreviver. Não o feminismo com o qual não se confunde mas a que se deve dar o justo mérito histórico. Falo de um começo mais telúrico que vai sobreviver para além modismos, falo da Libertação da Mulher como Necessidade da Revolução, uma Garantia da sua Continuidade, uma Condição do Seu Triunfo. Provavelmente por isso, esse comportamento se tornou cultura e sobreviveu, quando tantos ideais sossobraram.
Alguns detalhes: a consagração do 7 de Abril começou em 1972, com um cartaz do DIP, com a foto da Josina em tons sépia, para salientar a sua historicidade e a data 7 de Abril em cima; por baixo, a epígrafe MULHER MOÇAMBICANA COMBATENTE.
Mas a expressão do seu texto, Professor, de que o dia foi consagrado ou concedido por nós, homens, não cola totalmente. Explico com o que sei ou fiquei a saber. As minhas fontes são os testemunhos da Marina Pachinuapa e um relatório que li sobre uma consulta que o Presidente Mondlane mandou fazer sobre o pedido manifestado por jovens camaradas que, fardadas e não fardadas, vinham prestando à luta. Achavam elas que não lhes bastava tomar conta de crianças nos infantários e no transporte de material, produção... Queriam participar na “actividade principal”, expressão da época, uma igualdade no sacrifício. Deixo a si, sociólogo emérito, tirar as conclusões profundas deste acto, dos contextos sociais imediatos ou anteriores em que emerge, e das suas reverberações até aos nossos dias.
É essa reivindicação, aceite no tempo de Mondlane e com apoio de Samora que testemunhei, que esta “revolução dentro da revolução” fez o seu caminho, não sem resistências de muitos, com argumentos tão pouco racionais que revelavam mais que escondiam as verdadeiras razões. Marina tem contado com eloquência essas resistências, uma simbólica foi a recusa de entrega de estandarte, (vão receber na fronteira, vão receber no interior..).
A entrega do estandarte era tão simbólica que num Mozambique Revolution do princípio mesmo de 1974, a capa foi a entrega do estandarte ao grupo chefiado por Bonifácio Gruveta para reabrir a frente da Zambézia e que resultou na base de Mongué ou Mongwe.
Para mim, o processo de emancipação da mulher teve sucesso, porque resultou e criou uma aliança entre as jovens mulheres decididas e os revolucionários sociais dentro da Frelimo, Samora à frente.
Quis fazer essa observação e acabei por fazer um texto. De alguma forma também porque queria homenagear a minha mulher e mãe dos meus filhos, minha companheira que como na canção do Salomão Manhiça traz o povo no seu coração e a quem, com um beijo, copio neste mail.
Seteabrilemos..
Abraço"
Obrigado pelo texto e pela correção.
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