A nossa concepção de violência baseia-se na violência violenta, é uma concepção muito física, como que quinestésica: um tiro, uma agressão, uma ira sem fronteiras, um discurso, uma manifestação popular, uma carga policial. Quando isso acontece, de imediato salta um fusível perceptivo no comum de nós e dizemos algo como: eis a violência. Por outro lado, temos uma concepção que objectivamente exclui que as coisas serenas ou doces possam ser violentas ou dar origem à violência. Quer dizer, a nossa concepção é a do ruído, da explosão, a daqueles momentos veementes que escamoteiam as condições violentas não violentas que, por acumulação progressiva, geram a repentinidade da violência violenta que parece, afinal, não radicar nessas condições.
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