"Segundo dados estatísticos coligidos, o país registou, no ano de 2016, em média, dois linchamentos por semana. Os números demonstram, infelizmente, que os linchamentos tornaram-se uma prática da realidade moçambicana [...]. [...] o linchamento é um problema social que não pode ser solucionado, primariamente, por acções repressivas, devendo dar-se primazia às acções de prevenção como a promoção de debates [...] - Informação Anual do Procurador-Geral da República à Assembleia da República [2017], pp. 37-38.
Confira o número anterior aqui. Entro agora na segunda pergunta, com a resposta completa [o jovem da foto acima escapou do linchamento em 2008, na periferia da cidade da Beira].
Celso Ricardo: O que se está a passar no tocante aos linchamentos periurbanos? Este fenómeno é demonstração de quê?
Eu: O linchamento periurbano típico envolve uma multidão que assassina alguém de noite, regra geral um jovem desempregado passante na zona, acusado de roubo ou de estupro. O linchado pode estar inocente, mas isso não interessa à multidão, o que interessa à multidão é a crença de que “aquele indivíduo” é culpado, a crença de que ele deve pagar por todas e tudo. Para usar uma expressão do bispo Diniz Sengulane, as mentes estão armadas. O que mostra esse tipo de crime? Mostra inquietação social. Esta inquietação social desagua no crime aplicado a um bode expiatório, crime que é como um fusível que “salta” devido a um “sobreaquecimento social”.
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