Parte do da introdução que escrevi para o livro "O que é democracia?" da coleção "Cadernos de Ciências Sociais" da "Escolar Editora", no prelo:
São frequentes declarações de grande poder retórico do género "a democracia está em marcha", "a democracia veio para ficar", "somos um país rico de liberdade de expressão", "as eleições mostram que vivemos numa democracia", etc.
Por outras palavras, é dado por assente que a democracia existe de facto, faltando apenas aumentá-la. A imagem do pneu parece-me óptima para definir a convicção quantitativa sobre a existência da democracia: consoante o pneu esteja mais ou menos cheio, temos mais ou menos democracia.
O pensamento unidimensional, para dizer como Herbert Marcuse, assume a democracia formal como a única, como a real. "Elementos mágicos, autoritários e rituais invadem a palavra e a linguagem" – diria Marcuse.
Figuras políticas de todos os azimutes, da esquerda à direita, comungam ruidosamente do mesmo ideal: a defesa da democracia formal. A defesa da democracia formal, em toda a sua plenitude retórica e ideológica, assenta num princípio tornado sacrossanto: o de não mudar as relações sociais. A linguagem tornou-se serva da manipulação dos rituais de linguagem.
Os órgãos de comunicação de massa administram diariamente o soporífero dos atributos feiticistas que são havidos por inerentes à democracia formal: liberdade de expressão e eleições livres. Mediante esses atributos, a democracia formal aparece então como única e definitiva. A sociedade do espectáculo é o seu molde. A história chegou ao fim, à moda de Francis Fukuyama. Na verdade, existe toda uma enorme panóplia de mecanismos - palavras e imagens - destinados a transformar a democracia formal no espectáculo da história havida por completada.
Ora, a democracia é um processo complexo, delicado e cheio de contradições apesar da espessura e da extensão das intenções, das práticas e das lutas na história.
Democracia que, não poucas vezes, inexiste lá onde é suposta existir há muito.
São frequentes declarações de grande poder retórico do género "a democracia está em marcha", "a democracia veio para ficar", "somos um país rico de liberdade de expressão", "as eleições mostram que vivemos numa democracia", etc.
Por outras palavras, é dado por assente que a democracia existe de facto, faltando apenas aumentá-la. A imagem do pneu parece-me óptima para definir a convicção quantitativa sobre a existência da democracia: consoante o pneu esteja mais ou menos cheio, temos mais ou menos democracia.
O pensamento unidimensional, para dizer como Herbert Marcuse, assume a democracia formal como a única, como a real. "Elementos mágicos, autoritários e rituais invadem a palavra e a linguagem" – diria Marcuse.
Figuras políticas de todos os azimutes, da esquerda à direita, comungam ruidosamente do mesmo ideal: a defesa da democracia formal. A defesa da democracia formal, em toda a sua plenitude retórica e ideológica, assenta num princípio tornado sacrossanto: o de não mudar as relações sociais. A linguagem tornou-se serva da manipulação dos rituais de linguagem.
Os órgãos de comunicação de massa administram diariamente o soporífero dos atributos feiticistas que são havidos por inerentes à democracia formal: liberdade de expressão e eleições livres. Mediante esses atributos, a democracia formal aparece então como única e definitiva. A sociedade do espectáculo é o seu molde. A história chegou ao fim, à moda de Francis Fukuyama. Na verdade, existe toda uma enorme panóplia de mecanismos - palavras e imagens - destinados a transformar a democracia formal no espectáculo da história havida por completada.
Ora, a democracia é um processo complexo, delicado e cheio de contradições apesar da espessura e da extensão das intenções, das práticas e das lutas na história.
Democracia que, não poucas vezes, inexiste lá onde é suposta existir há muito.
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