Tenho, por hipótese, que as mechas são bem mais do que o sinete de um corpo modificado ao nível do couro cabeludo, do que uma janela para a alegria de um novo visual, do que o exercício de uma estética vibrante, do que um utensílio para a sedução. São, também, um termómetro do social e uma válvula de escape feminina. Termómetro do social porque, nas longas horas que dura o arranjo do cabelo, as mulheres (são regra geral várias, reunidas por causa do ritual) passam em revista a vida da família, da comunidade, do bairro, as suas alegrias e as suas tristezas; válvula de escape, porque a mechação é um canal de afirmação, de marcação identitária, frequentemente de protesto contra a dominação masculina. Em cada mecha anda uma história, em cada história habita uma alma, história e alma das nossas raparigas.
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