Nos mais variados pontos da cidade de Maputo, mas especialmente nas avenidas Kenneth Kaunda e Friedrich Engels, centenas de pessoas correm ou andam diariamente, manhã cedo, fim de tarde, todos os dias, jovens, idosos e meia-idade, homens e mulheres, magros e gordos, produzindo simbolicamente saúde. Se observarmos certos desses buscadores de saúde, verificaremos que as caras de algumas e de alguns mostram um sofrimento indizível, um desesperado esforço para cumprir pela disciplina da mente o que o corpo recusa vigorosamente. Os esgares, a corrida desajeitada, o arfar assustador: eis alguns indicadores. Provavelmente a maior parte dos buscadores de saúde pedestre não consulta médicos, limitando-se a seguir o que os outros fazem. Se todos fazem, se todos correm, se todos marcham, então eu também farei o mesmo, a mimese comanda. A crença de que tudo isso dá saúde e prolonga a vida não precisa de provas, é ela-própria a prova, o aparato do equipamento copiado das televisões e dos estádios é o veículo da prova. A esperança comanda o corpo, o futuro domestica o presente, a fé alimenta-se dela-própria.
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