Estava-se perante um cenário dantesco, reinava, forte, a sombra ameaçadora de Tânatos. A vala havida por verídica como que se tornou o gigantesco e absurdo símbolo do conflito militar em curso, perfilou-se como que a personificação absoluta da morte, enraizou-se no imaginário como que o indicador local do "mal-estar na civilização" [para usar o título de um livro de Freud]. De imediato, jornais, agências noticiosas, páginas das redes sociais digitais e blogues do copia/cola/mexerica transformaram a informação da "Lusa" num dado apodítico, numa informação indismentível, multiplicando-a e ampliando-a sem fim. Aqui. Porém, não houve confirmação das fontes, não se cruzou informação, não se observou o princípio do contraditório, não se encontrou a vala, os corpos não foram fotografados, não se foi, enfim, para além do testemunho oral [e mesmo este importava e importa ser investigado, avaliar a sua credibilidade]. A vala de Canda ficou - e permanece hoje ainda - como vala de oitiva. A necessidade de acreditar, no contexto de um conflito militar, sobrepôs-se por completo ao imperativo das evidências e das provas. Não obstante isso, a vala foi havida por confirmada [sic], como veremos no próximo número.
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
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15 junho 2016
Guerra e hermenêutica das valas comuns em Moçambique [7]
Estava-se perante um cenário dantesco, reinava, forte, a sombra ameaçadora de Tânatos. A vala havida por verídica como que se tornou o gigantesco e absurdo símbolo do conflito militar em curso, perfilou-se como que a personificação absoluta da morte, enraizou-se no imaginário como que o indicador local do "mal-estar na civilização" [para usar o título de um livro de Freud]. De imediato, jornais, agências noticiosas, páginas das redes sociais digitais e blogues do copia/cola/mexerica transformaram a informação da "Lusa" num dado apodítico, numa informação indismentível, multiplicando-a e ampliando-a sem fim. Aqui. Porém, não houve confirmação das fontes, não se cruzou informação, não se observou o princípio do contraditório, não se encontrou a vala, os corpos não foram fotografados, não se foi, enfim, para além do testemunho oral [e mesmo este importava e importa ser investigado, avaliar a sua credibilidade]. A vala de Canda ficou - e permanece hoje ainda - como vala de oitiva. A necessidade de acreditar, no contexto de um conflito militar, sobrepôs-se por completo ao imperativo das evidências e das provas. Não obstante isso, a vala foi havida por confirmada [sic], como veremos no próximo número.
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