Sempre me fascinou uma coisa, desde a minha meninice, lá na minha terra, vasta, que é Tete: o oxímoro. Em várias ocasiões, por motivos diversos, em vários dos distritos da província, por vezes em sítios recôndidos, perdido muitas vezes, sem qualquer sentido de orientação geográfica, tive de perguntar a camponeses onde ficava o sítio xis. E a resposta era, invariavelmente, a mesma: um dedo apontando a estrada e um breve "Ali, siô". E, não menos invariavelmente, eu perguntava: "É longe?" Uma vez mais, invariavelmente, a resposta era: "É perto mas não é perto" (ni pafupi koma pafupi). E, aqui e acolá, o acréscimo: "Não precisa pressa, há-de de chegar ao destino. Obrigado" (Bzinfunika lini kankulumize uti ufike ulendo bwako. Ndatenda). O que representa o oxímoro "É perto mas não é perto"? Uma contradição? A falta de um relógio? Uma contabilidade temporal distinta? É possível dar uma resposta pronta-a-vestir a cada uma dessas perguntas. Mas, ao fim destes anos todos, cheguei a uma conclusão por via da alma: "É perto mas não é perto" é uma forma de nos cumprimentar, de nos saudar, de nos suavizar as agruras das viagens, de trazer o longe para perto e o tornar familiar. Mesmo que não aceitem a minha conclusão, nada podereis fazer contra a minha alma, porque ela é a minha emoção contra a vossa razão, a emoção que os embondeiros de Tete ensinam.
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