É nas cidades de Moçambique onde toma curso o complexo mundo do informal (que é, afinal, o nosso verdadeiro mundo formal), mundo da nocturnidade para alguns, mundo da diurnidade real para a maioria, mundo da mestiçagem, heterogénea panóplia de actores, de práticas e de processos, federados todos na marginalidade em relação ao oficial e à lei mas sem quebrar os laços com ambos, onde tudo se vende (incluindo provas de exame, drogas, armas e medicamentos) numa permanente negociação sem recibo, onde os preços são feitos e refeitos a cada instante ao sabor do poder estruturante do aleatório, onde o inesperado e a ambivalência são a regra, onde a racionalidade económica e a impiedosa luta pela sobrevivência pagam tributo à afeição, ao dom e às redes de solidariedade, aos espíritos e à contra-feitiçaria, mundo onde as línguas originais são, afinal, línguas crioulas, mundo onde os processos de exclusão social são permeados pela inclusão das representações sociais e da cultura dos centros hegemónicos de bem-estar, mundo do ruído, das aparelhagens com o som no máximo, das querelas, das negociações, da vida permanentemente a descoberto, face a face, à vista de todos.
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