Outros elos pessoais

31 agosto 2015

A encruzilhada da Frelimo e de Nyusi: entre dominação e direcção [3]

Quanto mais os gestores de um Estado investirem nos aparelhos repressivos e na repressão, mais alta será a composição orgânica da política e menor a taxa de lucro político, quer dizer, menor a legitimidade.
Terceiro número da série. No número anterior deixei as seguintes perguntas: é o poder uma coisa, algo tangível, é o poder uma substância material que certos seres humanos excepcionais possuem em si ou dentro de si? O poder é individual, é pertença de um indivíduo?
Na verdade, o poder é uma palavrinha mágica que, no seu sentido mais imediato, digamos sinestésico, põe-nos logo a alma em sentido ou ajoelhada em santa reverência. Creio que todos nós temos do poder a imagem de algo tangível, mensurável, pegável. Por isso é corrente dizermos e escrevermos, por exemplo, coisas como "ele tem poder" ou "chegou ao poder" ou "o seu poder é visível".
É bem mais difícil conceber o poder não como uma coisa à mão de semear mas como uma relação ou, melhor, como produto de uma relação, de uma relação onde estão em jogo mútiplas coisas ao mesmo tempo.
Na verdade, o poder é produto de uma relação complexa, física e psíquica. Não é uma substância fisicamente tangível e não é pertença individual. O poder é, intrinsecamente, produto de um grupo.
Como um dia afirmou Hannah Arendt, o poder é sempre pertença de um grupo, apenas existindo enquanto o grupo estiver unido. Eis a sua posição no livro "Da violência": "Quando dizemos que alguém está “no poder” estamos na realidade nos referindo ao fato de encontrar-se esta pessoa investida de poder, por um certo número de pessoas, para atuar em seu nome. No momento em que o grupo, de onde se originara o poder (potestas in populo, sem um povo ou um grupo não há poder), desaparece, “o seu poder” também desaparece."

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