À superfície dos problemas, à tona da vida, dizem-nos: olhai a violência desta gente. Sem dúvida que esta gente é violenta. Há, mesmo, quem, com afã e varapau na alma, defenda o seguinte: urge dizer que ela é violenta. Somos então conduzidos a analisar o indivíduo, em última instância um conjunto de indivíduos; somos então conduzidos a tomar em conta a circunstancialidade, as fronteiras psicológicas, as fronteiras dessocializadas da violência. Mas tentemos ir um pouco mais longe: estão as premissas do problema, as premissas da questão, bem colocadas? Um dia, faz já muitos anos, Karl Marx escreveu o seguinte a propósito de um tema que agora não interessa aqui: "Nasce aqui a questão de saber se este problema não prenuncia já a sua falta de sentido e se a impossibilidade de solução não está já contida nas premissas da questão. Frequentemente a única possível resposta é a crítica da questão e a única solução é negá-la." Neguemos a questão tal como acima está colocada - psicologizada e individualizada - e coloquemos estoutra: quais são as condições sociais que geram a violência? Então, ao queremos controlar a violência circunstancial surpreendemo-nos com o fracasso das soluções por não termos querido ou podido criar novas premissas e, por essa via, negociar com o futuro, por não termos querido, enfim, alforriar-nos da esquina cognitiva mais comezinha.
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