Durante 22 anos, a Irmã Emmanuelle viveu num bairro de lata nos arredores do Cairo, Egipto. Regressada à Europa em 1993, Irmã Emmanuelle criou uma associação para defender os pobres e escreveu um livro com o título “Riqueza da pobreza”. Qual é o argumento desse fascinante livro? É o seguinte: enquanto na Europa a riqueza torna as pessoas inumanas, solitárias, nos países pobres, nos bairros de lata como os do Cairo, os pobres vivem felizes. Para eles o ideal não é ter, mas ser. E por isso são felizes, dão-se bem uns com os outros, tudo é motivo para contacto, inter-ajuda, fraternidade. Não há guerra porque nada há para disputar. O que mais desejam os pobres? Serem respeitados. As portas das suas pobres casas estão sempre abertas, as mulheres estão sempre nas ruas, na lufa-lufa. Na vida e na morte, estão juntos, partilham alegria e tristeza. Tão espantoso e ditirâmbico beduíno, feliz porque pobre, resgasta, evidentemente, o bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau. Mas um dia, terrível dia, a Irmã foi de férias ao Cairo. Viu, então, beduínos (termo dela) enriquecidos no comércio, com casas de alvenaria, rigorosamente fechadas. Portanto, a riqueza isola as pessoas, torna-as desconfiadas, zelosas do seu ter. E a Irmã ficou triste por não mais encontrar os seus adorados pobres beduínos.[*]
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[*] Soeur Emmanuelle, avec Asso, Philippe, Richesse de la pauvreté. Paris: Flammarion, 2001.
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