Outros elos pessoais

17 abril 2015

Xenofobia: esquecidos de estudar a floresta

A xenofobia na África do Sul tem provocado um enorme caudal de condenações. Por regra essas condenações assentam na psicologização comportamental e na atribuição de um fundo de maldade generalizado aos sul-africanos. Acresce que, aqui e acolá, fazem-se esforçadas digressões teóricas no sentido, por exemplo, de saber se estamos perante xenofobia ou afrofobia. É muito raro encontrar um esforço analítico e decisional que, firmemente, caminhe não apenas pelas pessoas mas também e especialmente pelos sistemas e grupos nos quais essas pessoas vivem e pelos quais são condicionadas; não apenas pelas acções de multidões enfurecidas mas também e especialmente pelas relações de produção e distribuição nos quais vivem os actores dessas multidões; não apenas pelos instantes mas também e especialmente pela história. Agarramo-nos às árvores esquecidos de estudar a floresta.

3 comentários:

  1. Indignação Sazonal
    Será que é varrendo o lixo para debaixo da mobília que resolvemos os problemas dos moçambicanos? Creia, eu não estou a favor de xenofobia nenhuma. Estou é contra a inacção sistémica de quem pode fazer algo melhor. Há muito que vemos estes episódios espalhados por toda RSA e poucas vezes senti que os governos dos países afectados pelo êxodo forçado de concidadãos a tomarem uma posição vigorosa quanto a isso. Mesmo porque, para mim, as retaliações espontâneas que vimos em Moçambique usaram o caso sul-africano como pretexto, para uma catarse de frustrações quotidianas. Até o líder da RENAMO se sentiu apavorado com elas.
    Porque as pessoas comuns em Moçambique estão fartas deste "status-quo" político do "ata-não-desata" da RENAMO e da FRELIMO. Estão fartas de um governo autista que coloca tecnocracia à frente de qualquer reivindicação social, económica ou política. Estão fartas de um sistema de redistribuição de benefícios comuns tão desigual, que coloca os que estão abaixo virtualmente fora de qualquer possibilidade de singrarem socialmente, mesmo que seja com expediente políticos na FRELIMO, nos doadores ou nas multinacionais. No tempo do socialismo, não havia uma redistribuição perfeita dos proventos. Porém, talvez por fazermos muitos tábua rasa nas carências e nas filas dos cartões de abastecimento, as dificuldades eram solidariamente aceites por quase todos. Mesmo os líderes, faziam um esforço em não melindrar as dificuldades quotidianas das massas.
    Mas hoje em dia, Nós, os moçambicanos comuns e sem rosto, que vivemos do nosso dia-a-dia de trabalho, atingimos o nosso limite de paciência, logo estamos fartos de ser pacíficos. Mas os que estão no poder pedem-nos calma...que mais nos pediram pedir? Porque o que vemos por aqui condoídos nas redes sociais e na media são essencialmente pessoas de classe média e alta, bem acomodadas e que vão duas, a três vezes por mês a RSA fazer compras ou socializar. Por isso, soam com estranheza os lamentos por algo que nunca lhes bateu na porta. Senão agora, que a auto-estrada está perigosa demais para se deslocarem até lá. Eles lá sabem o que é o quotidiano da nossa Diáspora nas Townships? Vejam lá isto. A nossa embaixada em Pretória nem sequer sabia dizer quantos centros de acomodação de emergência com moçambicanos erguidos pelas autoridades sul-africanas haviam. Foi preciso a STV lá ir, juntamente com os nossos diplomatas, para isso vir ao de cima. Mas, na hora do pleito eleitoral, lembram-se de todos e mais alguns. Nem que seja no Karroo.
    Mandar embora estrangeiros, sob intimidação, de Moçambique é problemático? Claro que é! Porque deixa mossas sérias nas relações laborais. Porque vejam bem. Foram colegas moçambicanos, com QI acima da média e alguns até com canudo, quem tomou a iniciativa. E não foi difícil, como já me referi acima, recuperar alguns ressentimentos do passado para mobilizar os descontentes. Mas é este sentimento contido que preocupa quem governa? Não, o que lhes preocupa é ver empreendimentos que irão fechar portas e com isso, menos OGE haverá para redistribuir para os mesmos de sempre, que com a sua entourage próxima apenas estão preocupados em nos dizer "CALMA". E depois da tempestade, o que irão fazer para nós, os social, económica e politicamente excluidos, nos mantenhamos calmos? Vamos reflectir.
    Tivéssemos nós em Moçambique, um governo com visão patriótica ampla, estaríamos a construir o nosso futuro sem pensar na RSA como receptor do que produzimos, fazemos ou importamos de lá, afinal como o Samora um dia tentou, a torto e a direito, mas ao menos tentou!

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  2. Sugiro coloque o comentário também na minha página do facebook, página que é mera janela do blogue.

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  3. Obrigado caro Professor pela sugestão. No entanto, prefiro continuar a comentar este assunto no âmbito do blog. O Facebook e sem duvidas uma ampla janela para nos comunicarmos com muita gente. Mas ao contrario dos tradicionais blogues, qualquer um vê e comenta o que quer e como quer. E pior do que isso, enfia-nos, sem nos apercebermos, numa agenda diabólica qualquer. Gilles Cistac acreditava que era possível debater por debater no Facebook. Infelizmente, enganou-se. Eu aprendi com isso. Mas sinta-se a vontade em reproduzir o essencial do meu comentario se for de vosso interesse.

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