Outros elos pessoais

28 abril 2015

Deus é como uma saudade

Em 2001, a minha assistente Helena Monteiro viveu um mês no Hospital Psiquiátrico de Nampula. A ideia era saber se os doentes mentais que lá estavam o eram efectivamente. Foi um trabalho muito difícil. Eis a transcrição por ela feita, no seu diário de campo, do diálogo com o “doente mental” (T), que estava acompanhado de um outro (M) [vide mais abaixo o índice da revista "Estudos Moçambicanos" de 2001]:
Helena: Onde arranjaste essas coisas que estão na sacola?
T.: Sou um apanhador…
Helena: Gostas de ficar aqui?
T.: Isto é gaiola.
Helena: Gaiola como?
T.: É tipo gaiola, irmã!
M.: É casa, não é gaiola!
T.: Se é prédio por que parece gaiola? Por que marcam horas para voltar? [fez esta pergunta a M.,que não respondeu]"
Clausura, mas, também, tristeza sem fronteiras:
T.: Corro em quilómetros quadrados [riso], quando passo pareço um fantasma porque passo depressa. Irmã, você tem religião?
Helena: Tenho, sou católica.
T.: Jesus está na terra, não está no céu, está enterrado, está a pensar o que vai fazer nos séculos aonde vamos.
Helena: Você não pode falar assim de Deus.
T.: Deus é como uma saudade.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.