Segundo número da série. Entro no primeiro ponto do sumário proposto no número inaugural, a saber: 1. A bola de Mbonimpa e o horizonte utópico. Num dos seus livros o filósofo burundês Melchior Mbonimpa usou uma imagem - para mim excepcionalmente bela - a propósito do que chamou horizonte utópico. Cada protagonista desse horizonte assemelha-se a alguém que, tendo atirado uma bola a um rio no sentido da foz, se lança à água para a apanhar, sem nunca a recuperar mas ao mesmo tempo sem nunca a perder de vista e sem nunca desesperar de a recuperar. Há nisso, ao mesmo tempo, um horizonte, porque o objecto se afasta sempre; e um propósito, porque o alvo, ainda que inacessível, resta visível e leva sempre mais longe o nadador que acredita poder um dia apanhar a bola para a qual projecta o seu desejo infinito. O horizonte utópico nada tem a ver com fuga do real, mas, nas palavras de Mbonimpa, "com um complexo de ideias destinado a dar uma direcção à acção social e política." [Mbonimpa, Melchior, Idéologies de l´indépendance africaine. Paris: L´Harmattan/Points de vue, 1989, pp. 181-182.]. É nesse sentido que a presente série vos é apresentada nesta introdução.
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