Décimo primeiro número da série. Trabalhando sempre com hipóteses, permaneço no quarto ponto dos seis pontos sugeridos aqui, a saber: 4. A concepção elitista do eleitor mata-borrão. Passo de imediato ao primeiro exemplo referido no número anterior: A tese do eleitor carente de educação cívica. O que aqui está em causa não é a importância da educação cívica em si, mas a concepção sobrevalorizada de que os cidadãos não sabem o que é suposto deverem saber sobre instituições, eleições e regras. Um inquérito por nós conduzido em 1998 em Angoche, Chimoio, Manica e Nampula mostrou que a enorme abstenção ocorrida nas eleições municipais desse ano não decorria da falta de educação cívica. Muitas das pessoas por nós inquiridas mostraram saber que o município tinha dois órgãos (presidente e assembleia); que o município tinha receitas próprias; que o governador não nomeava os presidentes dos municípios; e que o governador não nomeava os vereadores, ainda que a maior parte dos inquiridos não tivesse participado em seminários de educação cívica e não tivesse estudado as leis municipais. Acresce que as chamadas campanhas de educação cívica são, algumas vezes, descaradas campanhas de propaganda política partidária.
(vide Serra, Carlos [dir], Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, pp.43-243)
(vide Serra, Carlos [dir], Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, pp.43-243)
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