Outros elos pessoais

06 setembro 2014

Acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro (18)

*O que significam acordo, Estado e paz no Moçambique pré-Outubro, quer dizer, antes das eleições gerais marcadas para esse mês?
* Toda e qualquer luta entre partidos visa, não só um fim objectivo, mas ainda e acima de tudo o controlo sobre a distribuição de cargos" (Max Weber, O político e o cientista. Editorial Presença, s/d, p.64)
Décimo oitavo número da série. Eis a décima sexta e última nota sobre o que chamo Acordo de Maputo, homologado ontem pelo presidente da República, Armando Guebuza, e pelo presidente da Renamo, Afonso Dhlakama e que será rapidamente transformado em lei pela Assembleia da República na segunda-feira. Indo para além dos discursos nefelibatas e das expectativas quiliásticas, a hipótese central de todo este imbróglio é a seguinte: uma genuína paz (palavra grandiosa e cheia de problemas, esta) no país passa pelo realização das seguintes três condições em evidente acordo bipartidário (Frelimo+Renamo):
1. Redistribuição de recursos de vida pelos guerrilheiros da Renamo;
2. Redistribuição de recursos de poder e prestígio ao nível das forças de defesa e segurança pela elite militar da Renamo;
3. Redistribuição de alguns cargos de poder e prestígio - por exemplo para o presidente da Renamo, digamos que ao nível de uma vice-presidência -, cargos que poderão ser acompanhados por algum tipo de sinecura (participação simbólica em conselhos de administração de empresas públicas).
Talvez assim se possa compreender a enigmática frase do ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane, Prof. Filipe Couto ("Ninguém será castigado pelo eleitorado em Outubro") e, bem mais recentemente, a promessa do candidato da Frelimo, Filipe Nyusi, no sentido de que vai formar um governo inclusivo caso ganhe as eleições de Outubro. Por outras palavras: no âmbito da hipótese avançada, os resultados de Outubro não porão em causa a efectivação das três condições, destinadas a desarmar e a desguerrilhar a Renamo. Ainda que a redistribuição de topo possa provocar ressaibos ao nível dos aspirantes a topcargos nas hostes da Frelimo, poderá ser adoptado o lema de que alguns sacrifícios locais permitirão manter e reproduzir o sistema a nível geral.
Finalmente, resta saber se os sacrificados políticos em todo este processo bipartidário (Frelimo+Renamo) não serão Daviz Simango e o MDM.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.