2. O segundo ponto diz respeito a uma posição que surge sistematicamente na nossa imprensa escrita, nas rádios, nas televisões, nos blogues e nas redes sociais digitais. A posição é esta: "Eles aspiram ao poder". Nos casos mais extremos, diz-se "Eles aspiram ao poder a todo o custo". Regra geral essa acusação - porque é efectivamente uma acusação - é feita a quem não está em posição de ter, relacionalmente, o poder de gerir e de manter o Estado. Por outras palavras, é suposto que quem não tem esse poder, aspira a tê-lo. Não poucas vezes, a acusação tem um valor moral muito forte, um valor moral negativo, no sentido de que B não deve aspirar ao poder que já pertence a A - típica acusação de pecado. O que se esconde à retaguarda dessa posição acusatória? Esconde-se, oculta-se o facto de quem tem o poder de poder gerir o Estado tem tanta ou mais apetência pelo "poder político de poder". Por isso o mantém e por isso o defende a todo o custo. Só que o transfigura, o camufla, dotando-o de características meramente técnicas, de características neutralmente assistenciais, como se fosse algo estrangeiro a uma entidade política concreta. (Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera)
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
18 abril 2014
Sobre "poder" e "aspirar ao poder"
2. O segundo ponto diz respeito a uma posição que surge sistematicamente na nossa imprensa escrita, nas rádios, nas televisões, nos blogues e nas redes sociais digitais. A posição é esta: "Eles aspiram ao poder". Nos casos mais extremos, diz-se "Eles aspiram ao poder a todo o custo". Regra geral essa acusação - porque é efectivamente uma acusação - é feita a quem não está em posição de ter, relacionalmente, o poder de gerir e de manter o Estado. Por outras palavras, é suposto que quem não tem esse poder, aspira a tê-lo. Não poucas vezes, a acusação tem um valor moral muito forte, um valor moral negativo, no sentido de que B não deve aspirar ao poder que já pertence a A - típica acusação de pecado. O que se esconde à retaguarda dessa posição acusatória? Esconde-se, oculta-se o facto de quem tem o poder de poder gerir o Estado tem tanta ou mais apetência pelo "poder político de poder". Por isso o mantém e por isso o defende a todo o custo. Só que o transfigura, o camufla, dotando-o de características meramente técnicas, de características neutralmente assistenciais, como se fosse algo estrangeiro a uma entidade política concreta. (Imagem: el poder, quadro do pintor e ceramista argentino Raúl Pietranera)
2 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Grande radiografia.
ResponderEliminarMuitas vezes, mas muitas mesmo, o que se esconde por trás de tal acusação igualmente frequente, não é mais do que a incompetência de quem tem o poder de poder gerir mas não sabe. Quem lhe aponta a incapacidade , quase sempre associada a uma total ausência de integridade, já é apontado como desejoso de poder a todo o custo.
ResponderEliminarHá infelizmente muitos incompetentes a pilotarem o Poder.