Confrontados com todo o género de problemas e de mazelas na vida do dia-a-dia, apelamos desesperadamente à intervenção imediata de messias redentores, de deuses profanos, imploramos os milagres cura-tudo, as soluções decisivas, definitivas, convencidos de que os defeitos estruturais de sistema podem ser resolvidos com intervenções fortes de ocasião. O que está em causa não é o problema X na área da saúde, o problema Y na actuação policial ou o problema Z no rendimento laboral. O que está em causa é um conjunto de sérios problemas de governação que se estende da ostentação despesista ao cultivo da heroicidade de recurso. Não poucas vezes, certa imprensa salienta o esforço heróico do dirigente A ou B na resolução de problemas locais, como se assim o sistema ficasse curado de suas mazelas estruturais. Não poucas vezes publicita-se em parangonas quanto o dirigente A ou B fica pesaroso com os problemas que encontrou em suas visitas, tomando de imediato medidas profilácticas. A nível popular, não poucas vezes aparece a exigência imediata do herói A ou B para resolver problemas. Hipótese a testar: quanto mais uma sociedade estiver penetrada pelas redes parentais ou étnicas, pelo clientelismo político e pela cultura do fala como homem, mais ela está à mercê do apelo à emergência e ao herói providencial. Uma sociedade sem instituições consolidadas é uma sociedade gulosa de deuses profanos e de arbítrios.
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