O doente mental é uma figura emblemática das famílias semânticas da desordem primordial, ele reabsorve a densidade aguda da patologização social. Por ser havido como transgressor, por ser considerado perigoso, o doente mental é o objecto de uma disciplina que já foi um ramo da higiene pública, a psiquiatria, área do saber que jogou um papel fundamental da disciplinarização social iniciada na Europa. A patologização classificatória médica encontra o seu exercício pleno na localização dos hospitais psiquiátricos, construídos em locais distantes das cidades, exteriores, portanto, ao mundo dos "normais", bem como nos muros, nos quartos de clausura e nas correntes para os mais "agitados". Psicologia e psiquiatria são, ambas, caucionadas pelo poder judiciário. E ambas juntam-se à sociologia e à antropologia na sistemática tarefa estatal de disciplinarização social. Todas essas ciências guardam uma ligação íntima e genética com a disciplina procurada pelos Estados e pelos governantes.
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