Outros elos pessoais

12 janeiro 2014

Guerra, teoria do jogo e teorias da conspiração

Em 1995 o historiador moçambicano Yussuf Adam escreveu no extinto (infelizmente) NotMoc um texto sempre actual e exemplar, que introduzo com o seguinte extracto: "O AGP que celebramos já deu frutos, mas não se pode dormir à sombra da bananeira. Estamos numa situação em que não há guerra aberta mas congelada. Os discursos lembram a guerra e substituem-na. A actuação no Parlamento é também uma actuação guerreira. A atitude dos principais actores políticos no processo de negociação de paz e na manutenção da paz ilustra a "teoria de jogo". Se não me dás o que quero, bato-te. Bato-te e dás-me o que quero. A paz exige uma modificação das mentalidades e do funcionamento das instituições. As teorias de conspiração revelam uma incapacidade de análise e uma certa doença: Quando um doente atribui a sua dor de barriga, a sua miopia, a inflamação de dentes, à tia, à avó, aos antepassados, aos vizinhos, o médico escreve "encéfalo-escabiose" e envia o doente ao psiquiatra ou ao analista. Os Estados, os governos, os partidos e os políticos parecem-se muitas vezes com este tipo de doentes. Precisam de uma nota na papeleta: encéfalo-escabiose. Enganam-se a si próprios. Parecem cães que passam a vida a morder o seu próprio rabo." Aqui.
Adenda: já agora, recordando um texto meu: "Ora, o conflito existente nada tem de edílico e repousa unicamente numa coisa complexa e múltipla: partilha de recursos de poder e prestígio. A eventual resolução do conflito tem a ver com a passagem de uma situação de soma-zero para uma situação de soma não-zero, de uma situação em que A ganha tudo para a situação em que B e C também ganham. É aí que reside o coração do problema, seja em sua existência, seja em sua resolução."

1 comentário:

  1. Muito acutilante.

    Não o conheço pessoalmente, sei que o Professor Adam é uma sumidade académica.

    O texto revela, a meu ver, uma análise correcta e certeira, como a precisão de um relógio suíço.

    É sem dúvida uma escrita vernácula e um pensamento lúcido que escasseia.

    Em contrapartida temos um surto de analistas que todos os dias dizem a mesma coisa nas televisões e rádios.

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    Como já havia dito, em nome de uma falsa paz, este conflito foi congelado.

    Algumas lideranças escangalharam as FADM e transformaram armas em enxadas, esquecendo-se que em África os Estados não desenvolvem-se continuamente e permanecem sempre em situação de emergência.

    Zicomo

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