Outros elos pessoais

13 janeiro 2014

Espírito do deixa-falar (6)

Membros da equipa, da esquerda para a direita nas caricaturas em epígrafe: Sónia Ribeiro, moçambicana, professora de Biologia, Bairro Sansão Muthemba, cidade de Tete; Carlos Serra, moçambicano, coordenador, Bairro da Polana, cidade de Maputo; Geraldo dos Santos, moçambicano, historiador, Bairro da Malhangalene, cidade de Maputo; Félix Gorane, moçambicano, advogado, Bairro do Macúti, cidade da Beira; Joseph Poisson, francês, farmacêutico, Rue des Écoles (quarteirão latino), cidade de Paris.
Carlos Serra: o Geraldo prossegue depois de mim, como se recordam ele escrevia sobre a Renamo. Porém, gostaria de vos lembrar a perguntinha que deixei na sessão passada, a saber: pode considerar-se estarmos diante de uma guerra civil? Abraço. Carlos
Geraldo do Santos: obrigado, Carlos, na verdade vou prosseguir. Fazendo uso de uma linguagem metafórica, para se fazer a omolete daquela que foi a quinta-coluna chamada Renamo, era preciso haver ovos moçambicanos - disse eu. Que "ovos" eram esses? Eram todos aqueles que, vivendo em Moçambique ou regressados a Moçambique, obtida a independência nacional (e até antes, entre Abril de 74 e 25 de Junho de 75) não ficaram satisfeitos com a moldura política implantada pela Frelimo. Que não ficaram satisfeitos e, no caso de muitos, foram hostilizados. Uma galeria variada, com perfis sociais diversos. Uns pertenciam às antigas forças de segurança e inteligência do regímen colonial, outros figuravam nos grupos políticos surgidos, outros com formação académica desejavam fazer parte do governo, outros estavam descontentes com as nacionalizações operadas, mais tarde foram aqueles fugidos dos campos de reeducação, etc. Ainda não acabei. Respeitosos cumprimentos. Geraldo.
Félix Gorane: caro Geraldo dos Santos, não tenho qualquer dúvida de que a sua exposição deve ser documentalmente fidedigna. Mas a vida é muito mais do que exposições historicamente válidas, a vida é feita ou deve sempre feita de regras, de princípios morais, de leis para cumprir, de comportamentos negativos a penalizar. "Somos todos escravos da lei, para que possamos ser livres", escreveu um dia o grande Cícero. Vocês sabem que um senhor da Renamo acabou de dizer que esse partido tem armas em todo o país. Como podemos ter um Estado de Direito se andamos tortos com alguém a ter em pé de guerra um exército anti-governamental? Como podemos viver com dois exércitos? Como pode a lei ser obedecida dessa maneira? E mais não disse. Cumprimentos. Félix
(continua)
Adenda: a série pode também ser consultada na minha página da Academia.edu, aqui; sobre como nasceu este deixa-falar, confira um texto do Geraldo dos Santos, aqui.

1 comentário:

  1. Alguns pontos:

    1. Todos os conflitos tem uma causa.
    2. O conhecimento dessa(s) causa(s) é fundamental para se conseguir alternativas de solução.
    3. Vezes há em que a(s) causa(s) pesa de forma equiparada para ambos lados em contenda.
    4. Se a verdadeira causa demorou ser desberta ou foi ostentando um efeito 'camaleónico', não deixa de ser causa e, por isso mesmo, precisa ser encarada como causa do conflito.
    5. Por fim, encontrada uma boa alternative de solução, o conflito pode conhecer o seu definitivo termo até que um outro surja...

    Permitam-me sublinhar que o debate é muito rico e constitui-se numa boa metodologia de ensino-apredinzagem.

    Muito obrigado!

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