E assim, à velocidade dum fósforo, servem-se da rede social para difamar, insultar, trocar impropérios, e até, transformar a nossa dôr em caso de política. Internautas que se dizem conhecedores da verdade absoluta questionaram o posicionamento do Governo em relação ao desastre aéreo e ocuparam espaços para denegrir a imagem da nossa companhia aérea nacional. Como se eles, comodamente sentados diante do computador, soubessem como se deve actuar em tempo de crise onde estão em jogo factores de ordem diversa.
Até os mais respeitados meios de comunicação social de fora do nosso País (excuso-me de mencionar nomes) se dão ao luxo de falar em “avião desviado”. Por quem, como, porquê? Isso não dizem. Algumas redes sociais (e alguns blogueiros) noticiaram e colocaram fotos “do avião desaparecido”, cientes de que a foto publicada nada tinha a vêr com o avião que se despenhou. Nesta pressa de informar um dos canais de televisão de Portugal colocou nos seus ecrãs, num dos telejornais um mapa com a rota Maputo/Luanda e onde a nossa cidade-capital aparece no Oceano Atlântico. No mínimo absurdo. Aparecem as conjecturas. Fazem-se análises teóricas sobre “procedimentos aeronáuticos que não foram cumpridos” ou chama-se a atenção para pormenores de segurança aeronáutica “que levou ao banimento da LAM voar na Europa”.
Chamam para o “lead” da sua notícia o trivial. Para eles (porque não são profissionais do ofício) não existe, nem nunca ouviram falar de "O quê?", "Quem?", "Quando?", "Onde?", "Como?", e "Por quê?". Foram alguns destes “jornalistas do copy and paste” que hoje circularam (e continuarão a circular) pelas redes sociais, colocando (lamentavelmente) a nossa dôr e sofrimento em segundo plano."
Adenda às 08:33: reparem na imagem a seguir, retirada com a devida vénia daqui:
Concordo que há situacionistas. No entanto alguma pontualidade no informar deve ser exigida às instituições aplicáveis. Mesmo para que o boato não desponte e nem grasse. As 33 pessoas falecidas mantinham activas redes sociais muito mais amplas do que o facebook, twiter, blogues ou a internet inteira podem imaginar.
ResponderEliminarOs copy&paste só ganham espaço quando a necessidade de saber do público ultrapassa a capacidade de informar das instituições.
E sim, a primeiríssima pergunta deve ser se havia normalidade no cumprimento de procedimentos no voo TM470, se normalidade na exploração técnica das LAM?
Depois de 33 mortos não nós podemos furtar de uma auditoria ou investigação profundas sobre procedimentos por mais bonito que seja o emblema da nossa Companhia Aérea. E quem têm o dever de informar com conhecimento de factos ou suspeitas deve fazê-lo a tempo e em cadência que não propicie aparecimento de especulações.
Num evento assim todo o mundo é parte interessada e há muitas pessoas afectadas
Tenho acompanhado alguns jornais electrónicos importantes da praça, nomeadamente o "Verdade", o "Canalmoz" e os comentários lá vistos são simplesmente vergonhosos! Eu acho que nós, como moçambicanos que somos, devemos ter um pouco de auto-estima. Um pouco de valor. E muito de VALORES! E o triste deste assunto não é apenas ler comentários de pessoas ignorantes, que se acham o máximo por terem acesso à internet. É que entidades como estes jornais os publiquem! Isso acho mesmo triste e vergonhoso. Comentários com palavrões, com agressões a pessoas simples e a dirigentes do país tudo relacionado com um trágico acidente. Não é preciso sermos deste ou daquele partido, podemos não gostar de alguém, mas escrever as coisas que vejo por aqui sobre as pessoas é muito grave. As instituições que deveriam corrigir estes absurdos, que deveriam fazer da moda os bons modos, são as que permitem que isto aconteça. E é uma pena, que não tenhamos um pouco de orgulho nacional e alguns valores comuns a quase toda a humanidade, como o respeito pelos mortos e a compreensão em momentos de dor e tristeza! Quo vadis Moçambique!
ResponderEliminarSó muito excepcionalmente publico comentários com identidades omissas. Um convite veemente: criar identidades reais.
ResponderEliminarE a costumeira afirmação de " não é só aqui..., em todos os países acontece" etc não deve, como têm sido usual em Mocçambique, desresponsabilizar as instituições no que diz respeito a PROCEDIMENTOS .
ResponderEliminarNão desejo falar da competência dos quadros sobre quem recai a responsabilidade imediata destas coisas que só são noticia quando atingem a dimensão de tragédia ( ardem subestações porque alguém não cuidou ou não sabia cuidar de uma bateria para alimentar dispositivos de proteção, a barragem de Massingir está como está por falha de princípios elementares de operação de comportas de sector, Chokwe inunda-se por falta de um dique que com dois tractores se pode manter, etc etc.) falar da competência desta boa gente seria falar dos critérios da sua nomeação e essa é uma guerra que não quero comprar antes de 31 de Dezembro de 2014.
Se sorte mais grave não nos couber.
Já que estamos em maré de vergonha, é só ler os textos de pessoas muitas vezes mascaradas no anonimato que nas últimas semanas saem no Domingo, os ataques raciais e ideológicos contra todos aqueles que ostentam ideias diferentes, são críticos e pertencem a partidos diferentes. É isso menos grave, mais abonatório da autoestima? Não é o Domingo uma entidade que publica?
ResponderEliminarI was surprised to see that those 5 sites reporting that the MOZ plane has been "desviado" are portuguese.
ResponderEliminarAcabo de ler o Domingo e tenho que secundar a opinião do Sr Salvador. O " sublinhado" é da minha responsabilidade.
ResponderEliminarPilão bate forte e bem (bfb).
ResponderEliminarAqui, no blog do Carlos Serra, ha varios piloes bfb. MOZ precisa de ter mais desses.
Portugal still has problems with "desviado"
ResponderEliminar1961: The portuguese boat Santa Maria was hijacked (desviado) by captain Henrique Galvao.
Mr. Salazar, Portugal's boss, was quite furious. Poor fellow !
2013: Mozambique plane crashes in Namibia, killing 33.
For many portuguese blogs the plane was hijacked (desviado).
This disaster, with heavy loss of life, appears to have rejoiced those blogs and some of their readers.
In all these years the colour of the shit may have changed, but its smell is still the same.
Reli agora o comentário do Sr Manuel com o qual estou moralmente alinhado pois que se trata de bons e até bonitos princípios . O problema surge quando se exige reverência pelas mortes do acidente aéreo mas não se assume a mesma reverência pelos assassinados pela FIR(mesmo na porta da casa de um governador, por exemplo). A má governação exige momentos de catarse e se o dirigente for besta- como aliás há muitos- tem que se apontar as asneiras pelos reais nomes.
ResponderEliminarNão li os comentários a que se refere o Sr Manuel e lamento se há insultos a pessoas mas o ponto é que auto-estima não é um valor conseguido por decreto, orgulho nacional não é um subproduto da nacionalidade de uma determinada pessoa.estes são Valores que se constroem todos os dias através da distribuição equitativa dos recursos do poder. Temos isso hoje em Moçambique? a resposta categórica é NÃO .
O respeito têm uma propriedade muito particular: só se recebe de volta, i.e.,para ser tratado com respeito deve-se tratar os outros com respeito primeiro. E não é isso que temos visto nos dirigentes de Moçambique nos últimos tempos. As pessoas cansam-se.
PS: o que são, por definição, pessoas ignorantes, Sr Manuel?
Li com atenção os comentários das pessoas que escrevem neste emérito blog. Gostaria de responder às questões que são levantadas ao meu comentário.
ResponderEliminarEm 1º lugar eu acho que o acidente de uma avião nacional não é uma questão "per se" política, ao contrário das mortes de Muxungué, com as quais eu pessoalmente me solidarizo. Aliás, eu acho que qualquer morte de uma pessoa que seja por causas não naturais, é um triste acontecimento. Não quero aqui ajuizar o valor das mortes, mas acho que devemos separar as águas. Acho que o assunto do avião tem uma dimensão mais nacional e não nos deveria dividir por cores partidárias, pelo contrário. Afinal, todos usamos os aviões da nossa companhia. Poderiamos questionar outros assuntos sobre as politicas da aviação, sobre o monopolio, etc, mas estes não estão directamente ligados ao acidente.
Em 2º lugar eu me referia a todas (TODAS) as publicações periódicas do país. Se o Domingo faz isso, também deve ser incluido. Eu não li o Domingo na altura em que fiz o comentário, por isso não o inclui. Se existem outras que também colocam comentários negativos, desrespeitosos, sem atacar os problemas mas sim as pessoas, insultando, etc devem ser também colocadas aqui. Isso não é debate.
3º acho que estas instituições têm um papel muito importante na educação das pessoas e por isso deveriam ser exemplo. Para o efeito, deveriam colocar filtros onde seja necessário e não publicar comentários racistas, que fomentam a violência gratuita, não desenvolvem o respeito mútuo e valores positivos na sociedade, e desconstroem o que se pretende por nação.
4º acho que não é porque os outros nos insultam ou agridem que devemos retribuir pela mesma moeda, sobretudo aqueles que estão um nível mais acima. E acho que os jornais, como fazedores de opinião e de educação deviam estar neste patamar, ou seja um degrau mais acima.
5º quanto à divisão da riqueza eu entendo que o Sr. Nachingweya. Mas acho que a riqueza não faz a educação. Se considerarmos a distribuição de riqueza uma distribuição de educação, ai irei concordar consigo. Há paises onde a preocupação com a distribuição da riqueza é grave mas as pessoas não deixam de ter orgulho do seu pais e pensar nele como nação, com vontade de melhorar, sem partir o que existe. Exemplos há muitos e excuso-me de dar aqui. Parece que em Moçambique está a ficar moda que temos que partir o que existe para depois distribuirmos o que sobrar e isso me arrepia. Por isso, pensemos que não é apenas a questão da distribuição de riqueza, é uma questão muito mais profunda. É uma questão distriubuição de educação.
Finalmente, quanto aos ignorantes, foi apenas uma forma de aliviar a minha inconformidade, entretanto gostaria de referir que as pessoas que escrevem nos blogs que li, o fazem com muitos erros. Por isso, também os tomei por ignorantes. Mas o que deveria ter dito que o que mais têm muita falta de educação (valores) e não os chamar de ignorantes.
Felizmente, lendo uma vez mais os comentários, quero dizer que nem todos os que comentam o fazem de modo tão agressivo e há muitas pessoas (a maioria) solidárias com a tragédia o que é um bom ponto de partida!
P.S.
Desculpem por ainda não ter o registo. Logo que tiver mais tempo procurarei ter um. Obrigado pelo debate!
Boa tarde e agradecido por mais esta contribuição do Sr Manuel que clareia algumas penumbras.
ResponderEliminarApenas queria esclarecer que por distribuição de recursos do poder (tomei a frase dos escritos do professor aqui)eu não pretendia significar distribuição de riqueza- porque nem ricos somos- e, justamente em sintonia com a sua opinião, apelar pela massificação do acesso a uma educação de qualidade.
'FAZER DA ESCOLA UMA BASE PARA O POVO TOMAR O PODER'.
É a esta distribuição de recursos de poder, direi mesmo recursos de libertação, que me referia. Não de molhos de dolares ou de licenças de minas e madeiras. Isso só se transformará em riqueza quando os recursos de libertação conseguidos através de uma educação de qualidade acessível a todos puderem transformar, não vender apenas, os recursos naturais.(Convenhamos que um país produtor de carvão tem de poluir um pouquinho que seja o ambiente, não acham?)
Quanto aos nossos valores perante a vida e a morte concordo que estamos de rastos. Apoquenta-me muito que um governador com todos os deveres éticos da função não tenha assumido uma postura de governante perante a morte de um governado -qualquer que seja a cor das suas ideias-a porta de sua casa oficial. Mesmo que fosse um ladrão.
O acidente aéreo pode acontecer a qualquer um de nós ou nossos familiares e compreendo a indignação do Sr Manuel se há pessoas a partidarizarem culpas e insultos. Agora que ja começamos a ver as caras dos perecidos mais se avulta a dimensão da tragédia. São apenas pessoas como eu, tu, ele...Que descansem em paz e possam os familiares obter explicações do que aconteceu. Que este não seja outro Mbuzini onde o porquê ficou-se pelas entrelinhas.