Quando queremos reconstituir a unidade psíquico-comportamental de um herói, confrontamo-nos com inúmeros espelhos com ângulos de refracção diferentes. O herói foi, evidentemente, várias coisas na sua vida, mas as nossas necessidades (da gente comum, dos povos em luta, dos historiadores, dos políticos, dos chefes religiosos) podem sobrevalorizar - e frequentemente fazem-no - esta ou aquela característica, característica seleccionada que acaba por eclipsar as outras facetas do herói.
Isso é especialmente marcante na ocorrência da morte. Com efeito, a morte de alguém concorre para a criação ou para a ampliação das características do herói ou da característica central do herói. As representações sociais que as produzem ou a produzem acabam por diluir, por atenuar, por disfarçar e, até, por apagar, as facetas normais do homem comum, os seus defeitos, a aspereza do seu comportamento, etc. O herói surge, então, furtado à comezinha trajectória humana na sua qualidade mítica, sobre-humana, definitiva, eterna.
Adenda: recorde este meu trabalho intitulado O conflito na produção de heróis em Moçambique, aqui.
Quando eu estudava no ensino primário sabia quem eram os heróis.
ResponderEliminarNunca fui ensinado as fórmulas que definem heroicidade de uma pessoa.
Mas fui obrigado a decorar nomes.
Hoje tenho sérias dúvidas.
Por isso, uma discussão sobre heróis sou um aselha confesso.
O meu cunhado tem a "mania" de dizer "não existe nada de bom ou de santo ou de heróico do lado do poder, somente compromissos e baixeza."
Para terminar, próspero Ano Novo.
Zicomo
Os heróis são muito procurados quando se perde legitimidade política. É uma espécie de muleta.
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