Outros elos pessoais

28 novembro 2013

O boato do tira-camisa e a síndrome de Muxúnguè (1)

Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações." (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd., p.6)
Se não se importam, prossigo mais tarde, com a proposta de um sumário enquadrador.
(continua)
Adenda às 04:35: leia esta descrição sobre o "recrutamento relâmpago e forçado" aqui.
Adenda 2 às 04:43: os vorazes e acríticos blogues do copia/cola/mexerica continuam viralmente a dar corpo ao boato e os seus proprietários a "ver" recrutamento forçado por todo o lado. Este também é um fenómeno interessante. Nas redes sociais o boato continua igualmente activo. Por outras palavras: digitalmente o boato (hoax) prossegue, um ponto que reabordarei no sumário.
Adenda 3 às 04:50: um canal informativo colocou a palavra boato entre aspas, aqui.
Adenda 4 às 05.20“Trata-se de um boato visando desacreditar o cumprimento deste dever sagrado para com a pátria pelo jovem” - segundo o "Notícias" digital de hoje, posição do director dos Recursos Humanos no Ministério da Defesa Nacional, Edgar Cossa, confira aqui. A teoria conspiratória será um dos pontos do sumário acima referido.
Adenda 5 às 05:24: exemplo de uma notícia cujo autor teve o bom senso de não naufragar viralmente no boato, aqui.
Adenda 6 às 05:42: constitutiva da estrutura do boato é, também, a dificuldade em aceitar que determinado fenómeno é um boato. Muitas pessoas depositam tão obstinada força na crença que se sentem frustradas e, até, irritadas e agressivas, caso tentemos convencê-las de que estão enganadas. Este é um ponto que está integrado no sumário orientador mais acima referido.
Adenda 7 às 06:17: "No primeiro minuto, três pessoas sabem do boato. Dentro de 11 minutos mais de um milhão de pessoas já saberiam do boato. Boatos se espalham muito mais rapidamente em redes como o Twitter, que parece mesmo ser uma rede de notícias. Porém redes como o Facebook espalham os boatos por se tratar de uma rede mais estruturada, com contatos mais próximos que o Twitter. A dica é provocar o início da conversa pelo Twitter e depois levá-la para o Facebook". Aqui.
Adenda 8 às 08:38: "desinformação", assim entende o "Notícias" digital de hoje, aqui.
Adenda 9 às 08:58: informe de um jornalista sedeado na Beira, a meu pedido: "Beira está mais calma. Os chapas voltaram a circular normalmente. As barricadas foram removidas, uma acção que envolveu a polícia e o conselho municipal. Os mercados estão povoados novamente. A polícia disse ontem que foram detidas 23 pessoas acusadas de vandalismo e vai-se pronunciar às 10 horas para o balanço".
Adenda 10 às 09:20: após violento espasmo social, o boato extinguiu-se.
Adenda 11 às 11:37: o enigmático "na sequência" de Henriques Viola, aqui.
Adenda 12 às 15:34: "No terreno, a nossa equipa de reportagem interpelou muitos jovens sobre o assunto, no entanto, ninguém conseguiu apresentar prova desta informação, limitanto-se apenas a afirmar que circulava informação de que muitos jovens estavam a ser recrutados para tropa." - no "O País" digital de hoje, aqui.
Adenda 13 às 19:34: o vice-ministro da Defesa Nacional, Agostinho Mondlane, disse hoje na Beira admitir que alguém tentou criar uma acção oportunística na cidade da Beira visando engendrar instabilidade e agitação. O ministro intregra uma comissão que está a investigar as causas da instabilidade social ocorrida na Beira e no Dondo - notícia na "Rádio Moçambique" no noticiário das 19:30.

2 comentários:

  1. Por natureza o fumo é um subproduto de um fenómeno chamado fogo. Assim que se ve fumo sabe-se qua há fogo. E se preventivamente as pessoas não se querem queimar afastam-se o mais que podem da origem do fumo, o fogo. Muitas vezes em pánico.
    Se o que se viveu na Beira ontem foi apenas resultado de um boato infundado então o gatilho social está muito, muito tenso.

    ResponderEliminar
  2. Já escrevi num outro post que o país anda 'boatado'. Mas alguma coisa profunda deve ser reflectida, seriamente reflectida.

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.