Oficialmente, já vários gestores do Estado afirmaram que o "G20" é uma ficção, que não existe. O que unicamente existe - asseveram - é a agitação popular, há, até, quem já avance com a tese de uma agitação intencionalmente provocada por uma mão externa de maneira a formar-se uma frente popular antiestatal, agora que nos aproximamos das eleições.
Do lado popular, mas também em jornais e em redes sociais, o "G20" aparece como uma verdade insofismável, sólida, como um dado assente. Esse tenebroso "G20" assalta, viola, rouba e engoma. Negar isto é negar a realidade do sofrimento do povo, negar o ferro de engomar é negar a punição sofrida - asseguram os defensores da realidade do grupo malfeitor.
Em qual dos lados está, então, o nariz do Pinóquio?
Na realidade, o "G20" existe. A questão central é saber de que maneira existe, é aprender as suas regras, a sua gramática simbólica. Não importa se esse "G20" tem 20, 10 ou 30 números. O que importa é que o "G20" é uma fórmula, um abre-te sésamo económico que dá passagem, disciplina, organiza, orienta e torna racional a inquietação popular, produto de múltiplas carências e violações, de inúmeras esperanças, de muitos dias esfarrapados, de um futuro denso de expectativa e angústia, lá nos bairros periurbanos da Matola e de Maputo.
Não estão povos e fóruns mundiais protestando contra o "G20" dos ministros das finanças e dos chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia? Protestando contra o desemprego, a precariedade social, desconfiando cada vez mais das instituições, exigindo um futuro decente?
Então, como se através de um inconsciente social finalmente libertado das grilhetas em baixo para chegar à consciência colectiva em cima, os habitantes dos bairros periurbanos da Matola e de Maputo, neste Moçambique encostado ao Índico, são, afinal, eles também, um pequeno espaço no protesto mundial contra as actuais condições de vida, contra a violação da sua verticalidade, contra o "engomamento" da sua cultura e das suas esperanças, contra o "G20" local.
Por isso, ciosos, exigentes, os habitantes da Matola e de Maputo patrulham não os bairros em si, mas a dignidade humana por inteiro.
Há quem já alega que os cortes de electricidade aos bairros são feitos a pedido para que o G20 precise de gerador se quizer produzir a preceito. Um gerador as costas sempre ajuda as patrulhas a identificarem o potencial criminoso.
ResponderEliminarA ser verdade a entidade distribuidora de corrente deve andar em festa por, finalmente, haver uma justificação social da incompetência técnica.
A se Ohm soubesse como é observada a sua lei nestas paragens...
Alguém tem ainda dúvidas sobre o significado dos G20?
ResponderEliminarBom dia ilustre Professor,
ResponderEliminarApenas comentar partilhando da ideia de que o "G20" existe. A questão realmente é: o que é? Se o 20 é um determinante absoluto ou apenas indicador?... porque mesmo as primeiras vítimas, creio, estimaram que eram cerca de 20 e não taxativamente... Portanto, os espaços sociais vazios(Badie, B.) criados pela incapacidade/fraqueza do Estado, constitui de uma forma generica a plataforma sobre a qual, no meu entender, assenta o "G20", fenómeno este para o qual o Professor já fez um bom apontamento.
Pelo comportamento demonstrado perante ao fenómeno, vale a ideia que me vem consumindo de que a sociedade precisa emancipar, precisa de encontra formulas cada vez mais conscientes e que esteja cada vez mais organizada para resolver os seus problemas... pois, os próprios "politicos" são um produto da sociedade, da forma de ser de estar dessa mesma sociedade!
Obrigado e um bom dia.