Por hipótese, defendo que os efeitos dramáticos das chuvas e das cheias no país deixaram temporariamente na penumbra o que certa imprensa sistematicamente chama “conflito homem-animal” ou, numa outra variação imanentista, "animais problemáticos".
Permitam-me tentar reproblematizar o que parece estar desproblematizado com a atribuição aos animais (por extensão, à natureza) de uma malevolência natural, intrínseca, irremediável.
O problema não está nos animais em si, o problema está em nós, humanos. O conflito não é entre nós e os animais, mas entre nós, humanos, entre a mentalidade de bombeiro e a mentalidade de previsão, monitoria e solução coerente.
Em lugar de querermos matar uns tantos animais rapidamente com a mentalidade urgencial do bombeiro, seria saudável mudar o cerne do problema e colocar, entre outras, as seguintes quatro perguntas de partida:
1. Qual a razão ou quais as razões por que os animais atacam seres humanos?
2. Dispõe cada localidade, cada posto administrativo, de pelo menos um caçador, de uma arma tipo 365 e de munições suficientes para o abate controlado de certos animais?
3. Dispõe cada chefe de posto, cada administrador, de uma história circunstanciada das deslocações populacionais provocadas por cheias, secas, chuvas prolongadas e copiosas, caça furtiva e, no passado, pela guerra?
4. Dispõe cada chefe de posto, cada administrador, de informação regular e actualizada sobre a distribuição zonal dos animais selvagens, sua quantidade e diversidade e sua movimentação, com recurso, por exemplo, a fotografias via satélite?
Ora aqui está, nem mais. Mas quem está disposto?
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