Outros elos pessoais

01 dezembro 2012

"Um nacionalismo sem raças nem fronteiras"

Extracto da página 168 deste livro de José Óscar Monteiro: "Temperados com a experiência das independências de hino e bandeira, marcados pela trágica experiência de Lumumba, castigado por ter tentado conquistar uma independência real para o seu país, o nacionalismo de Mondlane e de Amílcar Cabral, de Agostinho Neto e Samora Machel, inaugura uma nova era na política de libertação. Traz para o movimento de libertação uma nova visão do nacionalismo - um nacionalismo sem raças nem fronteiras, um nacionalismo que visa servir o povo, um nacionalismo solidário. Esta visão não é expressão de uma colisão de raças, como na África do Sul, é algo que nasce no seio de movimentos essencialmente negros. [Este ponto da raça foi um leitmotiv da política da Frelimo, um ponto de debate permanente, quiçá inacabado. Nas vésperas da tomada de posse do Governo de Transição, aí por 17 de Setembro de 1974, Joaquim Chissano, nosso Primeiro Ministro do futuro Governo de Transição, deu uma conferência de imprensa, em Lourenço Marques, que eu moderei, como futuro Ministro da Informação. Maioritariamente, estavam jornalistas sul-africanos. - "A Frelimo é um movimento multirracial?" - "Nós somos um movimento antiracial!" A resposta era para eles."

4 comentários:

  1. De um modo geral, a ideologia marxista sempre tentou passar por cima das diferenças. Pese embora, este fosse um debate permanente longe dos olhares da multidão.

    Por outro lado, ficaria difícil à elite sulista da FRELIMO poder congregar outras nos seu seio, se não fosse pelo discurso da unidade, sobretudo estando em terreno alheio.

    Esse discurso, para mim, tornou-se agora superficial e serve mais do que nunca para marketing político. Não obstante, a partidocracia tenta, por vezes, disfarçar este corte com o passado machelista.

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  2. Sem dúvida que terá havido algum momento desse tipo de nacionalismo. Mas sumiu. O que afinal fica é o nacionalismo "originário".

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  3. Um discurso em tudo divorciado da realidade. Em que nem a própria Frelimo, na sua esmagadora maioria, acreditava. Nem sequer o corpo de Samora Machel havia arrefecido e das entranhas do seu partido surgia um manifesto a desacreditar a tese da ‘nova era’. (vd http://www.politique-africaine.com/numeros/pdf/029115.pdf)
    Tal como alegada matança da tribo, o anti-racismo era uma ficção: no fim, teria de haver sempre alguém a deter o poder, e no caso concreto da Frelimo e do seu regime, tratava-se de gente que se considerava legítima herdeira da resistência secular ao colonialismo; uma resistência circunscrita a Gaza, ela própria nascida de um outro colonialismo (nguni) e ornamentada com todos os rituais a ele subjacentes e que perduram até aos dias de hoje.
    Um movimento anti-racial? Todos sabemos que no léxico Frelimo o anti-racismo obedecia a parâmetros bem definidos. Desde que os de tonalidades de pele mais claras aceitassem o projecto totalitário tinham a entrada franqueada no clube da nova elite (‘os melhores filhos do povo’), e os demais vilipendiados na comunicação social para assim se justificar a negação do seu estatuto de moçambicanos.

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  4. O autor acha que a Frelimo pós X Congresso continua tão 'daltônica' quanto queria dar a entender aos jornalistas do apartheid (?) em 1974?

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