Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
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01 julho 2012
A carne dos outros (8)
Oitavo número da série, com tema referido aqui, mantendo-me no ponto três do sumário sugerido aqui: 3. Os fumos de Figueira de Almeida. Os fumos eram eleitos entre os que mais posses tinham localmente. O seu reinado durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Eram obrigados a tudo gastar: comida, pombe, jóias, tecidos, etc. Quando nada mais lhes restasse, eram distituídos e passavam a pertencer ao grupo dos grandes por mérito, com direito ao uso de um chapéu de palha e de um bordão. Fonte: Almeida, Francisco Figueira de, Carta q Franc.co Figr.ª de Almeida, Capitam de Sena, esvreeuo ao Governador Dom Nunes de Alues, dando lhe conta do q hia obrando, acerca da guerra, in Gomes, Antonio, Viagem q fez o Padre Ant.º Gomes, da Comp.ª de Jesus, ao Imperio de de (sic) Manomotapa: e assistencia q fez nas ditas terras de Alg´us annos (séc. XVII) 3, 1959, separata, p. 205. Pequena nota: imaginai se a história se repetisse e se os chefes actuais, certamente de bem mais posses que os fumos, fossem obrigados a inscrever-se na regras seiscentistas das antigas muzindas.
(continua)
* Entretanto, recorde a minha série em 14 números intitulada Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu, aqui. Para um excelente livro em francês que estabelece uma relação entre a percepções populares, feitiçaria, política e enriquecimento, consulte Geschere, Peter, Sorcellerie et politique, la viande des autres en Afrique. Paris: Karthala, 1995.
Parece haver alguma contradição entre a descrição do Padre Francisco Monclaro (A Carne dos Outros 4- abaixo) e esta do capitão Francisco Figueira de Almeida porquanto, segundo aquela, aos ricos o povo armava ciladas para lhes tomarem os bens e, de acordo esta ultima, era de entre os mais ricos que o povo elegia os fumos cujo reino durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade. Nesta ultima agrada-me que a escolha dos fumos fosse por via eleitoral- pode afinal dizer que nesta região havia democracia muito antes do Ocidente então geralmente monárquico. Mas confunde-me que o o exercício do 'fumado' fosse apenas despesista; que não servisse ele mesmo de meio de acumulação de mais riqueza para prolongar-se o mais possível o poder do eleito e aumentar-se o periodo em que ele adormecia a população com comida, tentação, calamidades, etc.
Talvez que a nossa historia deva ser reescrita pelo nosso punho.
Anseio por uma versão da história de África que tenha outro ângulo de visão do que estas crónicas de viagem ocidentais com os usos e costumes muitas vezes deturpadamente interpretados. Seguramente interpretados segundo uma bitola de outra Civilização. Uma coisa do tipo 'As Cruzadas vistas pelos Árabes' do Amin Malouf depois do que sabemos que os Bons fizeram aos Mouros segundo a História. Uma versão de História em que a África não seja apenas objecto mas também sujeito.
Muitos dos nossos africanos estudiosos defendem que existiu um socialismo africano. Certamente os autores citados no post não eram cegos apesar de "ocidentais". "É ou não é?"
Se eram cegos ou portavam qualquer outra dificiência física não há, por irrelevância, relato. Certo, certo é que o seu ponto de vista é forasteiro e, portanto, eivado da carga cultural da sua procedência. E, ainda, dificultado pelas barreiras de comunicação e das abordagens certamente nem sempre amistosas de parte a parte.
(Imagine-se o Sr padre Monclaro ou o capitão Almeida passando por Moussurize onde um casal matou, semana passada, o seu filho e lhe extraiu sangue segundo o Jornal Domingo de hoje. Nas hipoteses qunhentistas talvez escrevessem: 'Aquelas gentes hão por costume matar um filho extraindo-lhe o sangue para produção de riqueza em lugar de trabalharem' E assim esta seria a história dos usos e costumes de Mossurize )É ou não e´?
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Uau!!! Talvez com esses "fumos" o país andasse menos "fumado"...
ResponderEliminarParece haver alguma contradição entre a descrição do Padre Francisco Monclaro (A Carne dos Outros 4- abaixo) e esta do capitão Francisco Figueira de Almeida porquanto, segundo aquela, aos ricos o povo armava ciladas para lhes tomarem os bens e, de acordo esta ultima, era de entre os mais ricos que o povo elegia os fumos cujo reino durava enquanto tivessem com que gastar com a comunidade.
ResponderEliminarNesta ultima agrada-me que a escolha dos fumos fosse por via eleitoral- pode afinal dizer que nesta região havia democracia muito antes do Ocidente então geralmente monárquico. Mas confunde-me que o o exercício do 'fumado' fosse apenas despesista; que não servisse ele mesmo de meio de acumulação de mais riqueza para prolongar-se o mais possível o poder do eleito e aumentar-se o periodo em que ele adormecia a população com comida, tentação, calamidades, etc.
Talvez que a nossa historia deva ser reescrita pelo nosso punho.
Nos dois casos o nivelamento...
ResponderEliminarAnseio por uma versão da história de África que tenha outro ângulo de visão do que estas crónicas de viagem ocidentais com os usos e costumes muitas vezes deturpadamente interpretados.
ResponderEliminarSeguramente interpretados segundo uma bitola de outra Civilização.
Uma coisa do tipo 'As Cruzadas vistas pelos Árabes' do Amin Malouf depois do que sabemos que os Bons fizeram aos Mouros segundo a História.
Uma versão de História em que a África não seja apenas objecto mas também sujeito.
Muitos dos nossos africanos estudiosos defendem que existiu um socialismo africano. Certamente os autores citados no post não eram cegos apesar de "ocidentais". "É ou não é?"
ResponderEliminarPessoal porquê o desejo de igualdade é mostrar os africanos como objecto?
ResponderEliminarSe eram cegos ou portavam qualquer outra dificiência física não há, por irrelevância, relato. Certo, certo é que o seu ponto de vista é forasteiro e, portanto, eivado da carga cultural da sua procedência. E, ainda, dificultado pelas barreiras de comunicação e das abordagens certamente nem sempre amistosas de parte a parte.
ResponderEliminar(Imagine-se o Sr padre Monclaro ou o capitão Almeida passando por Moussurize onde um casal matou, semana passada, o seu filho e lhe extraiu sangue segundo o Jornal Domingo de hoje. Nas hipoteses qunhentistas talvez escrevessem: 'Aquelas gentes hão por costume matar um filho extraindo-lhe o sangue para produção de riqueza em lugar de trabalharem'
E assim esta seria a história dos usos e costumes de Mossurize )É ou não e´?