Escrevi no número anterior que, apesar do risco de repetir ideias e textos deste diário (e, mesmo, desta série), iria ocupar-me da gestão corporal do período colonial. Então vamos lá. Introdutoriamente, permito-me transcrever um pouco longamente uma pequena parte de um relatório colonial de 1899 concernente ao "trabalho indígena", cujo relator foi António Enes: "Portugal precisa, precisa absolutamente, precisa inadiavelmente fazer prosperar os herdamentos de África, e a prosperidade deles só pode advir da sua produtividade. Hoje, o problema culminante e fundamental da administração (...) é obrigar as províncias ultramarinas a produzirem, e talvez que a solução deste problema dificílimo seja a única solução prática da crise nacional. (...) Precisamos do trabalho dos indígenas, até para melhorar a condição desses trabalhadores; precisamos dele para a economia da Europa e para o progresso da África. A nossa África tropical não se cultiva senão com Africanos. O capital que se prestar a explorá-la, e que tão preciso é, há-de pedir trabalho para as explorações, trabalho abundante, barato, resistente; e esse trabalho, em tais condições, nunca lograrão fornecer-lho as emigrações europeias, que o impaludismo dizima. O negro, só o negro, pode fertilizar a África adusta, e de uma raça que ainda até hoje, no decurso de séculos sem conto, não produziu por esforço seu espontâneo um só rudimento de civilização, nunca se tirarão legiões de obreiros de progresso senão actuando sobre ela com todos os incentivos e todas as compulsões de uma tutela, beneficiente nos intuitos, justiceira e até generosa nos actos, mas enérgica e forte nos processos."
Prossigo mais tarde.
Passado não se esquece.
ResponderEliminarPassado com má cura é um problema...
ResponderEliminarPassado é a refeição do futuro...
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