Outros elos pessoais

04 dezembro 2011

Diário de campanha (12)

Prossigo a série, abordando mais alguns pontos, mas lamentando sempre não poder estar no terreno observando e ouvindo.
Candidatos independentes. Não surgiram candidatos independentes nestas eleições autárquicas intercalares. O facto de estarem em causa apenas três cidades, não obsta a que não coloque o fenómeno, até porque estamos perante assuntos e problemas locais, assuntos e problemas mais dentro dos cidadãos, aqueles que mais e melhor lhes dizem respeito. Os candidatos a edis surgiram como emanações de partidos e das suas máquinas de propaganda e suporte. O que pode significar isso? Pode significar, por exemplo, que a "sociedade civil" está amorfa, que a independência política de espírito inexiste, que não foi cortado o cordão umbilical que liga as pessoas às grandes entidades gestoras da vida e das esperanças.
Dinossauros. O preparo das eleições mostra quanto os partidos atribuem aos seus grandes, aos seus dinosssauros digamos assim, a capacidade de levarem os eleitores ao voto da vitória. Dinossauros levados para as três cidades com o fito de dirigirem os candidatos locais. Uma crença indiscutivelmente mágica.
Continuidade. Este série prossegue no dia 7, quarta-feira, dia de votação.(continua)
Adenda 1: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente pp. 43-243.
Adenda 2: recorde duas séries minhas, uma em 17 números intitulada Poder e representação: teatrocracia em Moçambique, aqui; outra, em 20 números, intitulada Para ganhar as eleições em Quelimane, aqui.
Adenda 3: o candidato da Frelimo em Quelimane, Lourenço Abubacar, tem uma página no facebook, aqui (propaganda promotora aqui); por sua vez, o candidato do MDM, Manuel de Araújo tem um portal na internet para a sua campanha, aqui. O Partido Humanitário de Moçambique não tem portal na internet, o mesmo sucedendo com o seu candidato a edil em Pemba, Emiliano Moçambique.
Adenda 4 às 7:12: a credibilidade familiar constituiu-se como trunfo de campanha, provavelmente pela primeira vez em eleições no país. Em que consiste? Consiste em defender a excelência do ambiente familiar do candidato A contra o suposto ambiente familiar duvidoso dos adversários B e C. Qual a conclusão politizada? A conclusão politizada é a de que um ambiente familiar saudável significa ambiente de gestão municipal também saudável.
Adenda 5 às 12:44: candidatos a edis e frequência de cultos religiosos.
Adenda 6 às 20:21: hoje, no seu noticiário das 20 horas, a estação televisiva STV dedicou bastante tempo aos momentos finais da campanha política em Quelimane, indiscutivelmente a grande plataforma giratória das eleições intercalares deste ano. Multidões na rua, do lado motorizado da Frelimo, do lado pedestre do MDM; festivais de música, líderes emocionados. Pena eu não poder estar no terreno, assistindo, tomando notas, descrevendo e analisando. Por exemplo, gostaria imenso de analisar a forma com os discursos políticos são recebidos e interpretados.

5 comentários:

  1. Depois é vê-los dizer que já carimbaram a vitória.

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  2. Para além das insinuações sobre ambiente familiar (como se os candidatos da Frelimo não tivessem "telhados de vidro"), surge o Ministro Pacheco na reunião com empresários em Quelimane a apelar aos mesmos para que votem no candidato da Frelimo E LEVEM TAMBÉM OS SEUS TRABALHADORES A VOTAR NO DITO CANDIDATO!

    Na óptica da Frelimo, os patrões devem impor o seu interese aos seus empregados ... para não falar no comprovado uso de viaturas, pessoal e combustiveis do Estado nas campanhas da Frelimo.

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  3. A ideia com que fiquei é que só certos partidos têm direito a lares condignos...

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  4. A quinta adenda é maquiavélica...

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  5. Entretanto em Cuamba...

    "...= O dia da OJM foi transferido de Metangula para Cuamba! A ideia é motivar os jovens de
    Cuamba a aderir ao projecto do partidão.
    = Até os Yutong de Lichinga andaram até Cuamba para levar os atletas do futebol recreativo!
    Em Lichinga não andam porque não há ideia para os dois autocarros urbanos.
    = Uma das viaturas que levava a OJM de Cuamba a Lichinga caiu em plena N13. Acidentados
    estão em coma no HPL. A viatura é da Direcção Provincial dos Combatentes!
    = Em 2008 académicos lançaram alertas em Lichinga para o fenómeno CUAMBA! Mazula e
    Machili já alertavam em pleno Niassa 2017. Os que ouviram e registaram devem estar a mandar
    rizadas!..."

    in " O FAISCA"

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