Outros elos pessoais

01 novembro 2011

Os espíritos de Samora Machel e Ivo Garrido

Segundo o "Diário de Moçambique" digital de hoje, o ministro da Saúde, Alexandre Manguele, pondera fazer visitas relâmpago aos estabelecimentos sanitários do país para travar a "onda de roubo sistemático" de consumíveis e medicamentos. Mas não só: pondera ainda fazer com que sejam revistadas as pastas e as viaturas de funcionários. Foi isto o que o ministro transmitiu aos inspectores do seu ministério. Aqui.
Observação: o problema deve ser grave para se pretender quer regressar ao espírito das visitas relâmpago efectuadas pelo ex-ministro do pelouro, Ivo Garrido, quer proceder a revistas. Em 2007, por exemplo, o "Notícias" dava conta da seguinte informação atribuída a Garrido: "Está a registar-se no país um desvio acentuado de medicamentos a nível do Sistema Nacional de Saúde, prática que envolve quadrilhas organizadas, que utilizam, inclusive, viaturas de grande tonelagem para o transporte do produto do roubo, que depois é comercializado, principalmente no Malawi." Aqui. Mas o espírito de Garrido era, afinal, o espírito fundador de Samora Machel, quando nos anos 80 o presidente, nervoso com a burocracia, a ineficiência estatal, a corrupção e o roubo, desencadeou a famosa Ofensiva político-organizacional, com visitas de surpresa a empresas estatais e serviços públicos.

5 comentários:

  1. Ora aqui está, quando estamos aflitos agarramos as soluções apressadas, então quando acabou a visita relâmpago e a revista e o inspector ou ministro saiu, logo a cancro prossegue sua obra.

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  2. Revistar o pessoal????Todos os dias????????

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  3. Revistar é de facto complicado. não tem outra solução?

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  4. Recordando...

    "...Conta-se que, certa vez, um general estava de partida e na cerimónia de passagem de pastas para o seu sucessor, este entregou-lhe três envelopes, com instrucções precisas para que, quando lhe surgisse o seu primeiro grande problema, abrisse o primeiro envelope. Todos os problemas graves subsequentes deveriam, logicamente, seguir o mesmo procedimento. Zeloso, o novo general pegou nos três envelopes e enfiou-os cuidadosamente num cofre para que ninguém, senão o próprio, os violasse na hora certa.
    Até ao dia em que se deparou com o seu primeiro grande problema. E abriu o primeiro envelope. Lá encontrou uma mensagem lacónica: "Culpar o seu antecessor!". E assim, foi à terreiro e desfez a reputação do seu antecessor até que a situação se acalmasse. E tão logo a vida pareceu querer voltar à normalidade. Mas foi sol de pouca dura. Ainda mal se refazia do embate e já estava perante o seu segundo grande problema. Afoito, foi novamente ao cofre e abriu o seu segundo envelope. Lá estava escrita somente uma frase: "Remodelação!". E assim o fez. Mas o processo mostrou-se tão complicado, quanto moroso, que acabou agravando qualquer outro problema, ainda que insignificante à partida. Inúmeros assuntos ficaram parados, à espera que a remodelação acabasse, coisa que na realidade nunca veio a acontecer.
    Não tardou por isso, que se deparasse com o seu terceiro grande problema. Aí nem pestanejou quando correu para o cofre para abrir o terceiro envelope. Abriu-o e leu-o estarrecido: " Prepare três envelopes!" Moral da história. A tendência para remodelar no lugar de fazer o que tem de ser feito é antiga e nos acompanha desde os primórdios. E nada melhor do que um fragmento histórico de Roma para a percebermos bem: "...Treinámos muito, mas pareceu-me que cada vez que constituíamos grupos de trabalho sólidos vinha uma remodelação. E aprendí mais tarde que tendemos a apelar à reorganização sempre que um novo obstáculo nos impede de avançar. Mas que método fantástico de governação é este, que cria a ilusão exterior de progresso, enquanto internamente produz a confusão, ineficiência e a desmoralização" ( Gaius Petronious, 66 DC).
    Ao que parece, o ministro Manguele não recebeu apenas os três envelopes de Garrido, mas sim, uma enorme caixa postal. Pois se assim não fosse, não teriamos de encontrar as respostas certas para explicar porque somos conhecidos como o país das INCONGRUÊNCIAS!!!..."

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  5. Não percebo... Este senhor tem a fantasia de que visitas-relâmpago teriam algum efeito disuasor neste esquema mais do que organizado, mais do que vergonhoso?

    Na melhor das hipóteses é ingenuidade, mas eu acho que já não consigo acreditar na ingenuidade das pessoas que estão à frente dos destinos deste povo...

    Os senhores fazem ideia do horror que é estar num hospital no meio do mato e não haver sequer um paracetamol para dar às crianças? Ver uma criança quase a morrer de meningite, com dores de cabeça inimagináveis, a pedir por tudo à mãe para a deixar morrer porque já não aguentava mais, e em vez de lhe acudir de imediato ainda ter de ir a casa buscar medicamentos e só a conseguir salvar in extremis porque um dia me lembrei de que talvez me fosse últil levar antibióticos comigo?

    E isto é todos os dias em todo o lado! Como é que se luta contra isto? Com visitas surpresa? Estão a gozar com o povo?!

    (um) beijo de mulata

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