Outros elos pessoais

25 novembro 2011

Diário de campanha (3)

Prossigo a série, abordando mais alguns pontos, mas lamentando sempre não poder estar no terreno observando e ouvindo.
Conflito das interpretações. As campanhas eleitorais são sempre um excelente laboratório para estudarmos muitos fenómenos, tal como mostra o livro constante da primeira adenda mais abaixo. Por exemplo, no "campo semântico do mostrado-oculto" (para usar uma expressão de Paul Ricoeur), na semântica das expressões de múltiplo sentido. O que quero sugerir? Quero sugerir que seria interessante estudar e comparar o que os candidatos dizem ou querem dizer e o que os eleitores, em sua diversidade social, acham que eles querem dizer ou realmente disseram. Não é o que dizemos que é importante, mas o que os outros acham que dizemos em função das suas expectativas. O "conflito das interpretações" (para usar de novo uma expressão de Ricoeur) é um dos campos maiores (mas infelizmente esquecidos) na análise da discursividade política de campanha.
Sátira e rumores. O estudo das formas populares de satirizar os candidatos e a propagação de rumores sobre eles ou sobre a campanha eleitoral, são outros dois campos merecedores de estudo.
Repetição. Alguém de um partido A afirma que o partido B está a usar meios do Estado em sua campanha. Logo de seguida alguém do partido B afirma que o partido A apenas revela que já está vencido. Este é um fenómeno que regressou ao cenário de campanha e que é merecedor de análise.
MDM. O MDM joga uma cartada: a de querer mostrar em três cidades do país que tem credibilidade urbana. O certo é que a Frelimo deslocou para as três cidades, para apoio e conselho aos seus candidatos, muitas das suas figuras séniores.
(continua)
Adenda 1: abordo múltiplos aspectos da engenharia eleitoral no seguinte livro: Serra, Carlos (dir), Eleitorado incapturável, Eleições municipais de 1998 em Manica, Chimoio, Beira, Dondo, Nampula e Angoche. Maputo: Livraria Universitária, 1999, 354 pp., confira especialmente pp. 43-243.
Adenda 2: recorde duas séries minhas, uma em 17 números intitulada Poder e representação: teatrocracia em Moçambique, aqui; outra, em 20 números, intitulada Para ganhar as eleições em Quelimane, aqui.
Adenda 3 às 6:12: confira jornais digitais aqui, aqui e aqui.
Adenda 4 às 11:42: "Diário da Zambézia" aqui.

2 comentários:

  1. Gostava mesmo de saber qual o papel da Renamo nesta história.

    ResponderEliminar
  2. Será que acreditam mesmo que irão ganhar vantagem com manifestações?

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.