Em 1996 tive a honra de proferir a "oração de sapiência" da Faculdade de Medicina, intitulada "O desafio de uma medicina bernardiana em Moçambique" (a faculdade editou uma brochura com o texto). Um extracto: "O (...) o médico bernardiano que pratica a medicina experimental, que pratica a dúvida metódica e sujeita a prova à contraprova, tem de ser, também, intrinsecamente, permitam-me a ousadia, uma espécie de nhamussoro, quer dizer alguém que ajude emocionalmente, que transforme o antibiótico, por exemplo, numa ponte de contacto humano, que saiba ouvir e acarinhar o doente, que tente introduzir ou reintroduzir, sobretudo após esta guerra longa e mortífera que destruiu o país, o espírito das crenças e dos valores de uma comunidade solidária à Tönnies. Por outras palavras, o laboratório bernardiano deve conter o espírito da nossa cultura, o húmus do nosso ser (...). É nessa dualidade íntima que vejo o percurso do futuro médico, daquele que começa hoje a estudar, daquele que, oriundo dos mais variados pontos deste país, portador de um determinado universo de socializações, decidiu nobremente que a sua vida seria dedicada à promoção da saúde e a curar os que adoecem. É nessa dualidade que vejo, também, o término do curso de medicina, término que, afinal, é sempre um novo começo, um novo processo".
Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
30 outubro 2011
Médicos: ao mesmo tempo bernardianos e vanhamussoro
Em 1996 tive a honra de proferir a "oração de sapiência" da Faculdade de Medicina, intitulada "O desafio de uma medicina bernardiana em Moçambique" (a faculdade editou uma brochura com o texto). Um extracto: "O (...) o médico bernardiano que pratica a medicina experimental, que pratica a dúvida metódica e sujeita a prova à contraprova, tem de ser, também, intrinsecamente, permitam-me a ousadia, uma espécie de nhamussoro, quer dizer alguém que ajude emocionalmente, que transforme o antibiótico, por exemplo, numa ponte de contacto humano, que saiba ouvir e acarinhar o doente, que tente introduzir ou reintroduzir, sobretudo após esta guerra longa e mortífera que destruiu o país, o espírito das crenças e dos valores de uma comunidade solidária à Tönnies. Por outras palavras, o laboratório bernardiano deve conter o espírito da nossa cultura, o húmus do nosso ser (...). É nessa dualidade íntima que vejo o percurso do futuro médico, daquele que começa hoje a estudar, daquele que, oriundo dos mais variados pontos deste país, portador de um determinado universo de socializações, decidiu nobremente que a sua vida seria dedicada à promoção da saúde e a curar os que adoecem. É nessa dualidade que vejo, também, o término do curso de medicina, término que, afinal, é sempre um novo começo, um novo processo".
4 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Manguele repete o discurso de Garrido.
ResponderEliminarAs clínicas privadas, esqueceram?
ResponderEliminarO médico devia ser com o verdadeiro pastor...entregue à causa dos doentes...
ResponderEliminarE por falar em Garrido. Ele foi o unico ministro desde 1975 que percebeu o quao importante era articular a assistencia medica com a assistencia psicologica ao doente. Ou seja, muitas vezes, as doencas podem ser evitadas e ate curadas se houver uma competente abordagem psicosomatica. Ora, o exercicio da psicologia clinica na nossa saude publica, nao e, nem popular, nem sequer bem aceite pela Ordem dos Medicos. Todavia, na saude privada, o cenario e bem diferente para melhor. So que, muitas vezes, ela limita-se a puro mercenarismo medico, quasi extorsao do doente.
ResponderEliminarE e ai que a visao de Garrido entra. Quando defendeu no seu consulado a partir de determinado momento, a adopcao da Terapia Comunitaria (partindo da excelente escola brasileira sobre o assunto) em Mocambique, justamente para confluir a "medicina bernardiana" que o sr. Prof. tantas vezes nos recorda, e porque nao dizer, poupar custos do proprio sistema de Saude, que afinal nao gera receitas suficientes nem sequer para pagar salarios condignos. Sucede porem que, Manguele e outros, decidiram simplesmente meter o assunto na gaveta a pretexto de falta de verba!